A influência do pensamento filosófico na construção dos Sistemas de Informação
Olá, comunidade da DIO!
Você já pensou que por trás de cada algoritmo, sistema de informação ou IA há questões ética e filosóficas que definem não apenas como a tecnologia funciona, mas por que ela existe e quem ela impacta?
Sou formada em História e gosto muito de Filosofia, mas estou atualmente estudando Análise e Desenvolvimento de Sistemas. E como meu primeiro artigo aqui na DIO, pensei em fazer um artigo numa uma abordagem interdisciplinar, ou seja, um tema que faça um diálogo entre a Filosofia e a Tecnologia, mais especificamente sobre Sistema de Informação e Filosofia da Informação.
RESUMO: O presente artigo apresenta uma análise sobre a influência do pensamento filosófico na construção dos sistemas de informação, estabelecendo um diálogo entre os fundamentos filosóficos e a evolução tecnológica contemporânea. A sociedade atual, caracterizada pelo uso intensivo de tecnologias de informação e comunicação, demanda reflexões que ultrapassam a dimensão técnica e alcançam questões ontológicas e éticas. Utilizando uma metodologia de revisão bibliográfica qualitativa, analisa-se como conceitos filosóficos podem orientar, com base em crítica construtiva, a criação e uso das tecnologias digitais, abordando questões como o determinismo tecnológico, a ética dos dados e a autonomia dos sistemas de inteligência artificial. Os resultados apontam que os sistemas de informação, longe de serem apenas construções técnicas, incorporam pressupostos filosóficos que moldam sua concepção e funcionamento. Conclui-se que o diálogo entre filosofia e sistemas de informação é fundamental para o desenvolvimento de tecnologias que respeitem princípios éticos e promovam o bem-estar social, contribuindo para uma Sociedade da Informação mais justa e equitativa.
Palavras-chave: Filosofia da Informação. Sistemas de Informação. Ética de dados. Inteligência Artificial.
A sociedade contemporânea, cada vez mais vem aprofundando sua imersão na experiência digital e tecnológica, experimentando complexas transformações nas formas de produção, comunicação e gestão do conhecimento. Nesse contexto, os sistemas de informação assumem um papel central, adaptando não apenas processos organizacionais, mas também as relações sociais e a própria compreensão do que é informação, conhecimento e realidade. Esta nova configuração social, denominada por diversos autores como Sociedade da Informação, apresenta desafios que transcendem o domínio puramente técnico e adentram o campo das reflexões filosóficas (Valentim; Marchi; Botega, 2022).
Nesse sentido, a velocidade com que as Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) evoluem e se inserem no cotidiano, tem alterado significativamente a vida humana, transformando o conceito de informação em um elemento interdisciplinar, que desempenha papel fundamental na sociedade atual. Como destacam Capurro e Hjørland (2007), a informação tem se tornado condição básica para o desenvolvimento econômico e social, o que justifica a necessidade de uma reflexão crítica sobre sua natureza e seus impactos. Nesse cenário emergente, surge um campo de investigação denominado "Filosofia da Informação", que se propõe a investigar criticamente a estrutura conceitual e os princípios básicos da informação, assim como elaborar metodologias informacionais e computacionais aplicáveis a problemas filosóficos (Floridi, 2002).
A Filosofia da Informação busca compreender a relação do ser humano com a informação tecnológica e seus desdobramentos na sociedade, configurando-se como um paradigma que visa descrever e entender essa nova realidade informacional (Ilharco, 2003). Nesse sentido, o presente artigo tem como objetivo estabelecer um diálogo entre os fundamentos da Filosofia e a evolução dos Sistemas de Informação, discutindo como conceitos filosóficos podem orientar a criação e uso das tecnologias digitais. Especificamente, busca-se analisar questões sobre determinismo tecnológico, ética dos dados e autonomia dos sistemas, com especial atenção aos desafios éticos impostos pela Inteligência Artificial (IA).
Justifica-se, assim, este estudo pela necessidade de uma abordagem crítica que ultrapasse o tecnicismo predominante no desenvolvimento de sistemas de informação, contribuindo para uma compreensão mais ampla e ética das tecnologias que permeiam a sociedade atual. Como afirmam Pellegrini e Vitorino (2018), é necessária uma reflexão filosófica sobre a informação e as tecnologias para que possamos orientar o desenvolvimento tecnológico em direção ao bem-estar humano e social.
Para atingir os objetivos propostos, o artigo estrutura-se em seções que abordam: os fundamentos da Filosofia da Informação; a relação entre epistemologia e Sistemas de Informação; o determinismo tecnológico e suas implicações; a ética dos dados no contexto da sociedade digital e os desafios filosóficos e éticos da Inteligência Artificial. Por fim, apresentam-se considerações sobre a importância contínua do pensamento filosófico para o desenvolvimento responsável e ético das tecnologias de informação.
2 FUNDAMENTOS DA FILOSOFIA DA INFORMAÇÃO E SUA RELAÇÃO COM SISTEMAS TECNOLÓGICOS
A Filosofia da Informação surge como um campo de investigação que busca compreender criticamente a natureza conceitual e os princípios básicos da informação. Segundo Floridi (2002), este campo se preocupa não apenas com a análise conceitual da informação, mas também com a elaboração e aplicação de teorias e metodologias informacionais e computacionais relacionadas aos problemas filosóficos. De acordo com Ilharco (2003), a Filosofia da Informação surgiu da Filosofia da Computação e possui uma área de investigação abrangente, relacionada às preocupações da Sociedade da Informação. Enquanto a Filosofia da Computação delineia seu objeto na informação tecnológica e nas ferramentas informacionais, a Filosofia da Informação privilegia a informação como tópico central, tratando as questões da computação como um processo em que a informação está inteiramente envolvida.
2.1 O conceito de informação sob perspectiva filosófica
A compreensão do conceito de informação representa um desafio significativo, dada sua natureza interdisciplinar e fluida. Capurro e Hjørland (2007) analisam o termo informação como um conceito interdisciplinar e afirmam que sua natureza muda conforme a finalidade e o contexto. Para Pellegrini e Vitorino (2018), no domínio da Ciência da Informação, o conceito de informação é apresentado no sentido de conhecimento comunicado que, quando extraído da mente por meio de linguagem natural, pode ser registrado, duplicado, transmitido, armazenado, organizado, processado, recuperado e reutilizado.
A evolução desse conceito acompanha as transformações sociais e tecnológicas. Barreto (2003) ressalta que a informação passou a ser compreendida como um produto ou uma mercadoria, o que levou à necessidade de repensar o fluxo informacional e buscar compreender a qualidade deste produto. O autor destaca características específicas da informação: ela não se esgota com o consumo, pois ao ser consumida, permanece consumível por um tempo determinado. Ela não transmite propriedade e sua unidade de medida é imprecisa. Já seu valor não está necessariamente relacionado ao custo. Ilharco (2003) apresenta uma reflexão mais profunda sobre o conceito de informação no contexto tecnológico:
"Como podem os excluídos, os explorados, os prejudicados informarem-se de modo a aumentar o seu poder e a alterar a sua situação? Como podem os mais beneficiados, os dominantes, obter e controlar informação que lhes permita manter ou fortalecer a sua posição de domínio?" (Ilharco, 2003, p. 76).
Essas questões, portanto, evidenciam a dimensão política e social da informação, compreendendo-a como um elemento de poder nas relações sociais contemporâneas.
2.2 Da teoria filosófica à prática dos Sistemas de Informação
A transposição do pensamento filosófico para o desenvolvimento de sistemas de informação revela-se um processo complexo e multifacetado. Os sistemas de informação, longe de serem produtos neutros e puramente técnicos, incorporam pressupostos epistemológicos e ontológicos que determinam sua concepção e funcionamento. Assim, faz-se essencial destacar a importância do ambiente informacional para o funcionamento eficaz dos sistemas de informação, especialmente no contexto de observatórios de ciência, tecnologia e inovação. Segundo os autores, tal ambiente é constituído por quatro eixos fundamentais: fontes de informação, equipe especializada, instrumentos e tecnologia, e produtos informacionais.
Essa perspectiva revela como os sistemas de informação são estruturados a partir de uma compreensão filosófica sobre o que é informação e como ela deve ser organizada e disponibilizada. A organização do conhecimento, como área que se dedica a estudar os princípios e técnicas de representação do conhecimento, oferece importantes contribuições para a construção filosófica dos sistemas de informação. Meschini, Valentim e Botega (2022) corroboram sobre a Filosofia da Informação, que deve ser entendida como uma área de investigação autônoma que versa sobre questões emergentes da Sociedade da Informação, estabelecendo com efeito, um diálogo com a Ciência da Informação e os sistemas tecnológicos.
3 DETERMINISMO TECNOLÓGICO VESUS AUTONOMIA HUMANA: UMA REFLEXÃO FILOSÓFICA
O determinismo tecnológico constitui uma visão que atribui à tecnologia o papel de principal força motriz das transformações sociais, considerando seu desenvolvimento como um processo autônomo, que segue uma lógica própria, independente de influências sociais, culturais ou políticas. Esta perspectiva tende a minimizar a agência humana e a capacidade de intervenção consciente no desenvolvimento tecnológico. A crítica filosófica ao determinismo tecnológico se fundamenta na compreensão de que as tecnologias são construções sociais, permeadas por valores, interesses e visões de mundo.
Nesse sentido, Ilharco (2003) propõe uma reflexão, para ele, é essencial entender o que significa esse "novo mundo' para as vidas humanas, quais as implicações, consequências, possibilidades e limites sugeridos, são possíveis ou necessários, considerando que vivemos imersos em diferentes informações interconectadas. Além disso, para ele, é importante saber até que ponto os traços essenciais daquilo que hoje representa o homem no mundo são desenhados, assentam ou dependem da tecnologia e da informação tecnológica. Estes questionamentos revelam a necessidade de uma reflexão crítica sobre o papel da tecnologia na vida humana e o grau de autonomia que os indivíduos mantêm em relação aos sistemas tecnológicos e a sociedade contemporânea.
3.1 A crítica filosófica ao determinismo tecnológico
A crítica filosófica ao determinismo tecnológico encontra respaldo em diversas correntes de pensamento. Montoya-Mogollón e Madio (2018) propõem uma distinção conceitual entre "Sociedade da Informação e Sociedade Informacional', argumentando que o mundo contemporâneo se aproxima mais de uma Sociedade Informacional mediada por tecnologias do que de uma Sociedade da Informação em seu sentido amplo. Essa distinção sugere uma compreensão mais complexa da relação entre sociedade e tecnologia, em que as tecnologias são parte integrante, mas não determinante única, das transformações sociais.
Percebe-se, ao argumentar sobre as TIC, que essas perspectivas não são as únicas responsáveis pelas transformações sociais vivenciadas na Sociedade da Informação. Para o autor, esta nova forma de sociedade é fruto de diversas mudanças sociais, econômicas, culturais e tecnológicas. As TIC beneficiam a sociedade em relação à informação, mas também contribuem para o surgimento de diversos problemas, como a sobrecarga informacional e a falta de confiabilidade das informações produzidas e disseminadas, onde há também uma grande quantidade de notícias falsas.
3.2 O papel da filosofia na preservação da autonomia humana
A filosofia desempenha um papel fundamental na preservação da autonomia humana frente ao avanço tecnológico. Ao questionar os fundamentos e pressupostos dos sistemas tecnológicos, a reflexão filosófica contribui para uma compreensão mais crítica e consciente da tecnologia como construção social e cultural. Cezar e Suaiden (2017) afirmam que os avanços tecnológicos geram impactos e mudanças em todos os aspectos da sociedade, constituindo uma tendência dominante. O poder da informação perpassa a vida em sociedade e define dinâmicas nas quais as práticas sociais e o espaço físico são reconfigurados a partir das TIC.
Nesse contexto, a reflexão filosófica torna-se essencial para garantir que essas reconfigurações preservem a agência humana e não conduzam a formas de alienação ou dominação tecnológica. Como destaca Almeida (2008), as TIC têm feito emergir uma discursividade que rompe com paradigmas socioculturais, especialmente no campo educacional. A autora compreende a educação como um processo emancipatório que tem sofrido alterações com a inclusão das TIC, influindo na migração do ensino presencial para o ciberespaço e instituindo pedagogias centradas no manuseio de ferramentas informáticas. Essa transformação demanda um acompanhamento filosófico que problematize seus pressupostos e implicações.
4 A ÉTICA DOS DADOS NA SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO
A ética dos dados emerge como uma questão central na Sociedade da Informação, especialmente considerando a crescente capacidade de coleta, armazenamento e processamento de informações pessoais. Floridi e Taddeo (2016) definem a ética de dados como um campo derivado da ética da informação, que engloba elementos morais de todos os tipos de dados, inclusive aqueles que servem para a tomada de decisões.
4.1 Privacidade, transparência e consentimento na era dos dados massivos
Um dos principais dilemas éticos no contexto do Big Data refere-se à privacidade dos indivíduos. Como apontam Ferreira, Rockembach e Krebs (2017), as falhas de segurança na Internet possibilitam o rastreamento não autorizado e o monitoramento ilegal, afetando os relacionamentos de confiança, segurança e implicando na privacidade individual. De acordo com De Mauro, Greco e Grimaldi (2016), o crescimento exponencial dos dados não foi acompanhado pela criação de diretrizes éticas focadas nos quesitos relacionados à privacidade dos usuários.
Com isso, os autores ressaltam a importância de "impedir qualquer identificação possível de informações pessoais por meio da anonimização dos algoritmos, visando defender a privacidade individual" (De Mauro; Greco; Grimaldi, 2016, p. 127, em tradução). Metcalf e Crawford (2016) observam que os efeitos dos danos observados no contexto Big Data são menos tangíveis do que os observados em cenários éticos tradicionais, distanciando-se de problemas físicos ou de saúde e aproximando-se de questões de privacidade e discriminação. Os autores ressaltam que os dados são produzidos em um contexto histórico, com valores políticos e éticos, o que amplia a complexidade desse cenário.
4.2 Questões éticas na coleta e uso de dados
A coleta e o uso de dados pessoais levantam questões éticas profundas sobre consentimento, transparência e responsabilidade. Meschini; Francelin (2024) destacam que a Filosofia da Informação oferece uma abordagem reflexiva para estas questões, buscando estabelecer princípios para a orientação da boa conduta dos indivíduos em um contexto repleto de dilemas e distorções comunicativo-informacionais. Bezerra e Lopes (2018) observam que as corporações com alcance global enfrentam dilemas relativos à informação em rede, como as várias formas de opacidade, a privacidade dos indivíduos e os sistemas de governança. Assim, as tensões de poder entre as instituições interessadas nos dados foram intensificadas pelo desenvolvimento das tecnologias no âmbito da internet e de suas diversas possibilidades informacionais no tocante às ações humanas.
Lopes e Matos, em seu artigo "Ética, dados e organização do conhecimento: considerações e perspectivas", argumentam sobre a necessidade de uma estruturação dos dados pautada em princípios organizativos, éticos e igualitários. Seguindo essa mesma ideia, entende-se que a estruturação dos dados precisa ser conduzida de forma crítica e orientada, pautada em princípios organizativos, éticos e igualitários que culminem em uma sociedade mais desenvolvida informacional e socialmente (Meschini; Francelin, 2024). Este posicionamento reforça a importância de considerar aspectos éticos não apenas na coleta e uso dos dados, mas também na sua organização e disponibilização, promovendo uma sociedade informacionalmente mais justa e equitativa.
5 INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E SEUS DESAFIOS
A Inteligência Artificial (IA) representa um dos campos mais desafiadores para a reflexão filosófica contemporânea, suscitando questões sobre a natureza da inteligência, da consciência e da própria humanidade. Floridi (2002) e Ilharco (2003) identificam a IA como um dos problemas fundamentais da Filosofia da Informação, suscitando questões fundamentais que devem ser analisadas criticamente.
5.1 Questões ontológicas sobre a inteligência artificial
As questões ontológicas relacionadas à IA envolvem reflexões sobre o que constitui a inteligência, se máquinas podem realmente "pensar" e qual o status ontológico de entidades artificiais inteligentes. Essas interrogações filosóficas são fundamentais para orientar o desenvolvimento responsável de sistemas de IA e compreender suas implicações para a sociedade humana. Assim, a própria ideia de uma inteligência artificial envolve questões filosóficas profundas sobre o que significa ser inteligente e se essa qualidade pode ser replicada fora de um contexto biológico (Floridi, 2016). Nesse sentido, são necessárias reflexões que apontem para a necessidade de uma abordagem filosófica que preceda e oriente o desenvolvimento tecnológico da IA considerando suas dimensões ontológicas e epistemológicas.
5.2 Dilemas éticos dos sistemas autônomos de decisão
Os sistemas autônomos de decisão, baseados em IA, apresentam dilemas éticos significativos, especialmente considerando sua crescente aplicação em contextos críticos, como saúde, justiça, transporte e finanças. Nunes e Santos (2023) argumentam que as tecnologias de informação e comunicação produziram mudanças significativas na sociedade, particularmente no que diz respeito aos dilemas éticos que surgem com a propagação de vieses por meio do uso de dados desbalanceados e correlações infundadas. Os autores destacam que algoritmos de decisão que contenham vieses podem levar à discriminação, pois:
"Em outras palavras, o viés está presente na forma como o algoritmo toma decisões, e a discriminação é o efeito prejudicial que essas decisões podem ter em termos de impacto desigual" (NUNES; SANTOS, 2023, p. 8).
Esta observação evidencia como questões técnicas de implementação de algoritmos têm desdobramentos éticos profundos, afetando direitos fundamentais e a justiça social. Outra questão ética fundamental refere-se à autonomia e responsabilidade. Winfield e Jirotka (2018), citados por Nunes e Santos (2023), questionam a responsabilidade em casos de acidentes envolvendo carros autônomos: "quem é o responsável? O(a) programador(a)? A empresa que desenvolveu o carro?" Estas questões ainda carecem de consenso, embora haja uma crescente opinião de que os algoritmos do futuro precisarão ser projetados para refletir as normas éticas e culturais de seus usuários e da sociedade.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este artigo buscou estabelecer um diálogo entre os fundamentos filosóficos e a construção dos sistemas de informação, explorando como conceitos filosóficos podem criticar e orientar o desenvolvimento e uso das tecnologias digitais. A investigação realizada demonstra que os sistemas de informação não são apenas construções técnicas, mas incorporam pressupostos filosóficos que determinam sua concepção, implementação e impactos sociais. Os fundamentos da Filosofia da Informação, conforme proposto por Floridi e desenvolvido por diversos autores, oferecem um arcabouço teórico relevante para compreender a natureza da informação no contexto tecnológico contemporâneo.
Esta perspectiva filosófica permite questionar o determinismo tecnológico predominante em muitas abordagens, destacando o papel da agência humana na construção e direcionamento das tecnologias informacionais. A ética dos dados emerge como um campo crucial na interseção entre filosofia e sistemas de informação, abordando questões de privacidade, transparência, consentimento e responsabilidade no contexto da coleta, processamento e uso de dados massivos. Nesse sentido, a Filosofia da Informação contribui para o estabelecimento de princípios éticos que orientem o desenvolvimento de tecnologias de informação respeitosas dos direitos e da dignidade humana.
No campo da inteligência artificial, os desafios filosóficos se multiplicam, envolvendo questões ontológicas sobre a natureza da inteligência e dilemas éticos relacionados à autonomia e responsabilidade de sistemas de decisão automatizados. A reflexão filosófica se mostra essencial para compreender e orientar o desenvolvimento de sistemas de IA que promovam o bem-estar humano e social. As limitações deste estudo incluem a abrangência do tema, que comporta múltiplas perspectivas filosóficas e tecnológicas, e a rápida evolução do campo dos sistemas de informação, que constantemente apresenta novos desafios éticos e conceituais.
Pesquisas futuras poderiam aprofundar aspectos específicos da relação entre filosofia e sistemas de informação, como a aplicação de teorias éticas específicas ao desenvolvimento tecnológico ou estudos empíricos sobre a influência de pressupostos filosóficos nas práticas de desenvolvimento de sistemas. Conclui-se que o diálogo entre pensamento filosófico e sistemas de informação é fundamental para o desenvolvimento de tecnologias que respeitem princípios éticos e promovam o bem-estar social. A Filosofia da Informação, ao proporcionar uma reflexão crítica sobre os fundamentos conceituais e éticos da informação tecnológica, contribui significativamente para uma Sociedade da Informação mais justa, equitativa e centrada no ser humano.
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