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Filipe Braga
Filipe Braga27/09/2023 14:18
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Síndrome da Aquisição de Equipamentos (Ferramentas)

    Quero ser cozinheiro. Qual é a melhor panela?

    Quero tirar um racha em Interlagos. Qual é o melhor carro?

    Quero pintar minha casa. Qual é o melhor rolo de tinta?

    Quero jogar futebol. Qual é a melhor chuteira?

    Quero gravar um som. Qual o melhor microfone? Qual o melhor plugin?

    Você deve achar que as perguntas acima não fazem muito sentido, afinal, como jogar toda a responsabilidade do nosso desempenho em uma ferramenta? Onde fica nosso conhecimento, experiência, teoria e prática? Não valeram nada os anos de estudo, estágios, erros e acertos?

    Quero ser melhor com as pessoas. Qual o melhor método? Cursos? Oratória? Comunicação não-violenta? E os mindsets? Já estas perguntas acima parece ser bastante toleráveis para muitos de nós. Por que seria diferente em Tecnologia?

    Não é nada normal alguém se perguntar isso. É comum, mas não é normal. Isso é considerado uma Doença, aliás, que já tem nome nos EUA: Síndrome de Aquisição de Equipamentos (SAE / GAS).

    A maioria de nós, é bem provável que já tenha sofrido ou sofra desta síndrome. Acredite, ela não vale a pena e é passageira, então evite a perda de tempo e a ansiedade brutal, pulando para a próxima etapa!

    Por que será que raramente nos perguntamos: "Como aprender a gravar? Cozinhar, pilotar, pintar e jogar futebol?"

    Estas devem ser as perguntas e para elas, as respostas são bem mais simples e acessíveis, é só enxergarmos.

    O brasileiro médio joga bem futebol. Será que tem as melhores chuteiras do mundo ou porque praticou todas as semanas de sua vida desde os 6 anos de idade?

    Um pintor profissional realmente precisa de um pincel caríssimo ou pode fazer um excelente trabalho com qualquer rolo da loja da esquina?

    Você consegue imaginar um piloto de Fórmula 1 fazer barbeiragem no trânsito, simplesmente porque seu carro de passeio não tem suspensão ativa? Não teria ele um excelente desempenho com qualquer carro, em qualquer pista de corrida?

    E o segredo daquela chef respeitadíssimo - são suas panelas e facas? Ou simplesmente ele não tem nenhum segredo, apenas se dedicou à culinária por anos e anos, obsessivamente?

    Para a grande maioria de nós, mortais, aí esta o segredo do sucesso: uma pequena parcela talento, uma grande parcela obsessão. E nada de parcela equipamento.

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    Estudar é chato, demora. "Quero aprender já! Exercícios? Disciplina? Paciência? Tô fora, quero resolver meu problema agora."

    Quem nunca pensou assim? E aí o caminho natural é nos isentarmos da responsabilidade de aprender e jogar a culpa em outra coisa.

    "Não consigo gravar um som decente porque não tenho um microfone caro. Se comprasse aquela interface de áudio com certeza poderia gravar bem melhor no meu home studio."

    "Não consigo evoluir em TI, porque não tenho muito dinheiro, porque não tenho muito tempo, porque não tem um mentor, porque não tenho o software ou curso certo."

    Mentira, não se engane! Se estudar é tão chato assim então talvez estejamos estudando o assunto errado.

    Os grandes profissionais que admiramos e respeitamos estudaram MUITO. MUITO. E nunca pararam. Sentem prazer em aprender coisas novas, conseguem visualizar suas próprias limitações e podem traçar objetivos claros. Planejam, nem sempre são pacientes e provavelmente também já sofreram com muita ansiedade, mas se tornaram obsessivos quanto aos seus objetivos. Resultado? São os profissionais realizados, que respeitamos e admiramos.

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    Olhando para a área musical e para outros aprendizados na vida fica claro que existem três fases possíveis no processo:

    1) SAE:

    Nesta fase, o aspirante está extremamente empolgado. Tudo, absolutamente tudo da área é fascinante, é novidade. Ele sai a procura de receitas. Ele participa de fóruns, está desesperado para ter respostas. Viva a Internet! Esquece que a Internet está repleta de outros colegas na mesma situação, 90% dos internautas, para chutar baixo.

    Eles se encontram, um ajuda o outro, ou pelo menos tentam se ajudar. Enquanto isso o mundo lá fora continua. Aparecem os mitos. Num ambiente descontrolado e amador, os mitos viram verdades. Todo mundo tem sua própria opinião, forte, absoluta. Precisamos delas. Não se sente muito confortável para discutir assuntos complicados, afinal ainda não tem a formação necessária para isso. Naturalmente, se especializa em ferramentas, são mais palpáveis, interessantes, acessíveis.

    Não são acessíveis? Então com certeza aí está o seu problema.

    Se ao menos pudesse ter R$100.000 na conta, resolveria todos os seus problemas em poucos dias. Continua sua busca ansiosa por respostas que não existem.

    Em algum momento ele percebe que NÃO está fazendo muitos progressos, que não conseguiu absorver tanta informação e muito menos compreendê-las, transformá-las em conhecimento. Falta prática, falta tempo. E aí ele decide não ter tanta pressa, recomeçar, juntar conhecimentos passo a passo. Entra na próxima fase.

    2) PÉ NO CHÃO.

    Com algumas ferramentas em mãos, muitos deles idênticos aos dos outros milhares de colegas na mesma situação (departamentos de marketing existem para isso), alguns totalmente desnecessários, que nunca foram utilizados e outros absolutamente poderosos e subutilizados, ele se vê desanimado.

    Sem contar as milhares de horas gastas e os 500GB de livros e videos em disco, para nada. O resultado que esperava não veio. Acabou gastando tempo e dinheiro em coisas pouco importantes. Descobriu que precisa tomar uma decisão séria: brincar de ser profissional ou se profissionalizar de fato.

    A segunda opção assusta, requer tempo, muito tempo, mais dinheiro, planejamento. Provavelmente significa vender quase todos os equipamentos, seus equipamentos tão importantes!!! Terá que dar um tempo aos fóruns. Precisa investir mais na prática, ler as coisas "certas" e fazer o trabalho doloroso, assumir que ainda não aprendeu quase nada. Então faz alguns cursos e tenta absorver, sugar tudo o que pode. Se decidir seguir adiante, provavelmente já não terá a mesma empolgação. Mas não pode se esquecer que foi sua paixão por música, por áudio, pelo mundo, pelas mulheres, que o levou até ali.

    Muitos não querem acreditar e voltam para a primeira fase. Chegam a passar anos e anos caminhando entre as duas fases, enquanto já poderiam estar bem avançados. Alguns poucos insistem no plano e começam, de fato, a compreender como funcionam as coisas no mundo da sedução. Este sentimento é fantástico e impagável! Você pode ter "estudado" um assunto 30 vezes, mas só agora compreendeu de fato. Não há nada como o tempo, a paciência. Está pronto para a próxima fase.

    3) CONSCIÊNCIA.

    O formando já tem plena consciência da sua capacidade e do ponto onde se encontra. Não tem vergonha de estar começando e sente-se orgulhoso de ter atravessado as etapas anteriores. A motivação volta! Já pode arriscar a voos mais ousados. Começa ter uma vida mais estável. Sua capacidade de aprendizado se multiplicou, cada leitura, cada exercício e cada trabalho realizado são uma verdadeira aula.

    Está numa rampa ascendente, sem volta. De repente, as ferramentas já não representam mais o que eram. São apenas ferramentas. Eventualmente, poderá descobrir alguma tecnologia, teoria, livro, rotina, etc... que dê uma pitada de diferenciação no seu trabalho, uma assinatura, a cereja do bolo. Mas tem plena consciência de que um equipamento nunca substituirá seus anos de estudo, seu conhecimento e prática. Sua ansiedade diminui e sente-se realizado. Olha ao redor e encontra vários colegas que já estão um passo a frente, não desanima, pelo contrário, tem certeza que chegará lá. Também vê diversos outros que ainda estão nas fases anteriores. Se ao menos pudesse explicar, transmitir sua vivência para eles. Difícil... As grandes lições são aprendidas na pele, como ele aprendeu.

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    Para todos nós, é essencial identificarmos em que fase estamos.

    Não existe um tempo certo para cada uma, não existe uma idade certa para começar. Cada pessoa tem seu ritmo e suas possibilidades.

    Mas todos passam por elas, é natural e nunca devemos nos envergonhar. Quando começamos em geral estamos determinados, porém inseguros.

    Não podemos simplesmente recomendar as ferramentas para outros, pois estamos todos em momentos e objetivos diferentes. Temos históricos diferentes. A visão que eu tenho de uma ferramenta pode não ser a mesma que outra pessoa tem. Podemos estar em fases diferentes, com objetivos diferentes.

    E para complicar, todo e qualquer ferramenta tem seu desempenho determinado pelo usuário, pelo ambiente e pelos demais equipamentos da cadeia. Quase nunca podem ser julgados isoladamente. Se ainda considerarmos orçamento, preferências pessoais, traumas passados, mitos e marketing, uma recomendação seria no mínimo perigosa.

    O que é bom e funciona para mim pode não ser bom e nem funcionar para você. Não leve as ferramentas tão a sério. Sua vida, sim, esta é importante!

    __________________

    "O que torna irrealizável um sonho,

    não é o sonho em si;

    é a inércia de quem sonha."

    E.E.Puriton

    "Os bons vão ao passo certo;

    os outros ignorando-os inteiramente,

    dançam à volta deles a coreografia da hora que passa."

    F. Kafka

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    Comentários (3)
    Jose Leite
    Jose Leite - 27/09/2023 15:17

    ótimas colocações e que é enfatizado a necessidade de termos e olharmos mais o fator humano, uma vez que a humanidade esta cada dia mais materialista isso só esta vendo o produto e não o fator humano, neste empregado.


    Tiago Alvim
    Tiago Alvim - 27/09/2023 14:55

    Ótimo artigo !


    Daniel Santos
    Daniel Santos - 27/09/2023 14:24

    Meu amigo, que artigo excelente, acredito que estou na seunga fase, botar o pé no chão e aceitar tudo de novo que vier, já que ainda não tenho o necessário, sucesso!