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Carlos Lima
Carlos Lima28/04/2025 15:39
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Resposta ao Artigo de Opinião: "Se você se sente ameaçado pela IA, você é um programador ruim."

  • #Inteligência Artificial (IA)

Introdução

Em seu livro The Black Swan: Second Edition: The Impact of the Highly Improbable: With a New Section: "On Robustness and Fragility", o autor Nicholas Nassim Taleb discute os riscos de ignorar eventos altamente improváveis. Assumimos que amanhã haverá sol, porque ontem e anteontem também houve, mas, sob a ótica de empiristas céticos como David Hume, essa suposição é um equívoco.

O ponto que quero acentuar é que nunca ou jamais são intervalos de tempo insuficientes para validar a legitimidade de uma afirmação. O fato de algo não ter ocorrido no passado — como o low-code substituir o programador — não justifica pressupor que isso se manterá no futuro. Não há correlação comprovada. Assim, afirmar que a IA não substituirá o programador é uma premissa infundada.

Este ensaio é uma resposta ao artigo de opinião do usuário Mateus Oliveira, intitulado: "Se você se sente ameaçado pela IA, você é um programador ruim."

Engenharia de Software

No universo casual da programação, o iniciado muitas vezes encontra dificuldade em separar o todo da parte. Na prática, essa distinção é a diferença entre simplesmente escrever código e exercer a Engenharia de Software.

Em seu livro Software Engineering at Google: Lessons Learned from Programming Over Time, Titus Winters define Engenharia de Software como código através do tempo.

Observe como Titus, com base em sua experiência no Google, ressalta que a Engenharia de Software começa após o código estar pronto. Em IA Engineering, isso seria equivalente à manutenção dos dados e à avaliação contínua dos modelos. Trata-se do todo, da estrutura de sustentação. Assim como a velocidade média é apenas uma parte da Cinemática — e não sua totalidade.

Dialética

No livro O Banquete, Platão descreve como Sócrates debate com seus pares sobre a justiça. Em determinado momento, para que o diálogo avance, eles precisam definir claramente o significado de cada palavra. Isso implica estar na mesma página, evitando a desonestidade intelectual.

Afinal, na dialética socrática, o objetivo é aprender e expandir ideias — não vencer o oponente (razão pela qual escrevo esta resposta).

Dito isso, para fins deste ensaio, defino:

  • Programador: alguém que escreve código, sem se ocupar de tarefas inerentes à Engenharia de Software.
  • Programador ruim: aquele incapaz de solucionar um problema "X" sob certas circunstâncias, utilizando uma tecnologia previamente escolhida (por ele ou por seu contratante).

Críticas ao Artigo de Opinião

Artigos de opinião precisam de uma base argumentativa sólida e livre de falácias para manter a credibilidade. Em geral, isso se dá por meio de citações e referências. Se a premissa é falsa, todo o raciocínio que a segue também será comprometido.

Aqui estão os principais pontos em que discordo do texto de Mateus, pela ausência de evidências:

1. “No-code já existe há décadas. Ferramentas como WordPress, Webflow, Bubble, Wix — todas nasceram da ideia de tirar o programador da jogada. E adivinha? A profissão de programador não apenas sobreviveu, como cresceu absurdamente.”

As alegações são que:

  • No-code foi criado para substituir programadores; e
  • Isso não ocorreu.

Embora tal afirmação pareça intuitiva, sem dados concretos ela não constitui um objeto legítimo de análise, nem permite inferências sobre o futuro da tecnologia.

2. “A IA pode até criar pedaços de código, mas ela não entende os negócios, os contextos, as nuances que um programador entende.”

Quais contextos? Qual IA? Estamos nos referindo também a modelos capazes de realizar reasoning? É necessário delimitar. Vale notar, por exemplo, o desempenho de modelos de IA no desenvolvimento de código.

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Fonte: https://arxiv.org/abs/2412.19437

3. “O programador do futuro não vai ser aquele que escreve tudo do zero.”

Como argumentado por Taleb, basear previsões futuras exclusivamente em eventos passados é um erro lógico. Sem evidências adicionais, tal afirmação carece de sustentação.

Minha Opinião

Estou ciente de que se trata de um texto opinativo, com as limitações próprias da falta de evidências. O problema reside na pressuposição de que certos pontos são "óbvios".

Minha preocupação maior é a confusão feita entre:

  • O futuro da Engenharia de Software; e
  • A prática inicial de simplesmente escrever códigos.

No artigo, observo simplificações excessivas sobre agentes de IA e a ausência de casos relevantes de uso — apesar de haver exemplos importantes disponíveis, como Claude Code, RAG, Devin, Cursor, entre outros.

Como diria Carl Sagan: "Alegações extraordinárias exigem evidências igualmente extraordinárias." Tal elemento não foi observado no artigo (entendo também que talvez não fosse o objetivo, mas seria necessário, caso se pretendesse transmitir credibilidade).

Mesmo sendo especialista, ao ler o texto, senti confusão e dúvidas em relação às alegações apresentadas. Como pesquisador, não aceitaria nenhuma afirmação sem respaldo. Minha preocupação é ainda maior em relação aos leitores iniciantes na área.

Por fim, reconheço que se trata de um texto corajoso, embora carente de fundamentação mais sólida. Com ajustes e evidências, poderia se tornar um trabalho forte e relevante.

Minha resposta é uma tentativa de estabelecer bases corretas para a formação do pensamento crítico. Outras inquietações ficaram de fora para manter o foco nos pontos que mais me chamaram atenção.

Essas palavras não configuram, em nenhum momento, um ataque pessoal ao autor Mateus Oliveira.

Atenciosamente,

CLL.

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Comentários (1)
Mateus Olveira
Mateus Olveira - 28/04/2025 16:11

Resposta ao Texto de resposta a minha resposta (isso virou um loop ? alguém declara com for, por favor )

conseguiu minha atenção amigão.



Sobre Sensacionalismo e Captação de Atenção

A mídia tradicional utiliza o sensacionalismo há décadas como estratégia de sobrevivência. Desde manchetes alarmistas até editoriais emocionais, o objetivo sempre foi captar a atenção do público — em uma batalha constante pela audiência. No meu artigo de opinião, adotei intencionalmente um tom forte e provocativo com o mesmo objetivo: chamar a atenção para uma discussão que, de outra forma, seria ignorada.

Reconheço que adotar um título forte como "Se você se sente ameaçado pela IA, você é um programador ruim" é, sim, uma estratégia de impacto. Sem essa estratégia, minha visão poderia ser simplesmente mais uma entre milhões no mar de informações da internet. Vivemos na era da atenção, e é necessário capturar a audiência antes de tentar dialogar com ela.

Agora, vamos aos pontos técnicos levantados:

Sobre o "No-code já existe há décadas"

É verdade que plataformas como WordPress, Webflow, Bubble e Wix existem há muito tempo, e que a profissão de programador não apenas sobreviveu, mas também cresceu. Porém, dizer que "não houve impacto" simplesmente porque a profissão sobreviveu é uma simplificação grosseira.

O crescimento da profissão se deve, em boa parte, à explosão da tecnologia como um todo — Big Data, Machine Learning, dispositivos móveis, computação em nuvem — e não ao fato de o "No-code" ter sido ineficaz.

Além disso, o "programador do futuro" que descrevi não é aquele que simplesmente escreve código manualmente como em 1990. O futuro da programação exige domínio de automação, integração de ferramentas, engenharia de dados, raciocínio de alto nível, e, cada vez mais, interação com plataformas de IA.

O próprio argumento sobre o passado (No-code não matou programadores) como garantia de que o futuro será igual é exatamente o tipo de erro que Taleb descreve em "The Black Swan" — confiar em padrões passados para projetar o futuro, sem considerar novas variáveis disruptivas.

Logo, o fato de termos sobrevivido à primeira onda de No-code não é, por si só, uma evidência de que sobreviveremos ilesos a ondas futuras, especialmente em um cenário onde a IA evolui de forma exponencial.

Sobre "A IA pode criar código, mas não entende negócios e contextos"

Essa afirmação, embora válida em parte, carece de precisão.

Quais IAs? Estamos falando de IAs de 2018 ou dos modelos como Claude 3, DeepSeek, Devin, que demonstram capacidades de reasoning (raciocínio lógico e contextualização avançada)?

Hoje, temos modelos que não apenas escrevem código, mas sugerem melhorias arquiteturais, corrigem erros, interpretam requisitos de negócios e até acompanham mudanças de contexto em projetos grandes. Ignorar isso é ignorar dados atuais — o que contradiz a exigência por evidências concretas feita na resposta.

Portanto, embora a IA ainda tenha limitações, afirmar categoricamente que ela "não entende contextos" sem delimitar quais modelos, qual nível de reasoning, e quais tarefas específicas é, sim, uma visão imprecisa e ultrapassada.

Minha Posição

Eu sou programador. Não sou influencer, nem figura pública. Não estou aqui para vender esperança, nem desespero. Estou aqui para praticar meu ofício, aprender, evoluir, e — como já afirmei — ser um bom programador.

E olha só: aqui estou eu novamente, baseando meu futuro em minha fé na evolução, no trabalho duro e na minha capacidade de adaptação — e, ironicamente, me apoiando também na observação do passado para projetar quem eu quero me tornar.

Se vamos usar o passado como guia, que seja para nos prepararmos para mudanças — e não para negar que elas possam acontecer.

E eu vou ser um bom programador.