Que mundo herdaremos das Inteligências Artificiais?
Na história da humanidade, mudanças disruptivas - sobretudo tecnológicas - sempre trouxeram consigo pelo menos duas perspectivas: uma, até óbvia, e outra, nem tanto. Enquanto as empresas planejam como lucrar com as novas ferramentas desenvolvidas, sob a perspectiva dos trabalhadores esses momentos costumam ser de muita apreensão pelo que virá a seguir.
A título de exemplo, em um passado não muito distante a energia elétrica foi responsável por uma série de modificações no cotidiano, o que possibilitou avanços não apenas em relação ao desenvolvimento de novos produtos e serviços, mas também de como se entendia o trabalho. Hoje, pode ser que não seja diferente quando tomamos por base os mais novos personagens da jornada tecnológica que vivenciamos: as Inteligências Artificiais.
Diante de toda controvérsia gerada em torno do tema, há quem, por exemplo, diga que esse modelo não é "nem inteligente, nem artificial", como afirma o renomado cientista brasileiro, Miguel Nicolelis. E ele não está só ao expor essa perspectiva. Em um recente artigo publicado no jornal inglês The Guardian, Evgeny Morozov, estudioso dos impactos da tecnologia na sociedade, corrobora com essa linha analítica evidenciada pelo cientista brasileiro em podcasts e textos na internet.
Dentre outros argumentos, no artigo de Morozov mencionado acima, ele escreve que tais mecanismos tecnológicos "tiram sua força do trabalho de humanos reais: artistas, músicos, programadores e escritores cuja produção criativa e profissional é agora apropriada em nome de salvar a civilização" e, "na melhor das hipóteses, isso é 'inteligência não artificial'”. Para ele, até mesmo a tal "inteligência" é discutível, pois, "inteligência não se trata apenas de correspondência de padrões".
Podemos discordar de tais argumentos frontalmente (ou não), porém, eu e você, leitor(a), possivelmente iremos convergir ao fato de que, independente de ser ou não Inteligências Artificiais no sentido semântico da coisa, vivenciamos uma Nova Era e isso impactará profundamente o mundo como o conhecemos. Sobretudo economicamente.
Sob a minha perspectiva, o importante aqui, nessa quadra da história, é se seremos capazes de ter regulações tão velozes quanto às informações e desenvolvimento gerados, a fim de proteger empregos e melhorar a qualidade de vida da humanidade. Pois de outro lado, empresas querem maximizar seus lucros e diminuir custos. Essa é a lógica do mercado. E ela não é a mesma lógica da vida.
"Seja baseada em crenças alucinatórias ou não, uma corrida do ouro de inteligência artificial começou nos últimos meses para extrair as oportunidades de negócios antecipadas de modelos de IA generativos como o ChatGPT."
O autor da citação acima é, nada menos, que o editor geral da MIT Technology Review, David Rotman, que nos traz uma perspectiva no mínimo interessante de ser discutida e refletida. Nesse artigo, Rotman destaca que "novos modelos de linguagem ampla transformarão muitos empregos. Se eles levarão à prosperidade generalizada ou não, depende de nós".
Do auge da minha ignorância, prefiro acreditar que embora navegamos por mares agitados e nunca antes explorados, encontraremos um porto seguro. Afinal, mesmo diante de todos os pesares do mundo moderno, a tecnologia que nos trouxe até aqui já nos proporciona uma vida melhor que nossos pais possivelmente tiveram. Nesse contexto, faço minhas as palavras de David Rotman: "Enquanto as empresas lutam por maneiras de usar a tecnologia, os economistas dizem que uma rara janela se abriu para repensar como obter o máximo de benefícios da nova geração de IA."
Quem viver, verá!