Quando a IA substitui o professor sem aviso prévio
Sempre busquei me aprimorar profissionalmente e recentemente me inscrevi na Formação AWS CLF-02 Practitioner da plataforma DIO. Como profissional da tecnologia, entendo a importância dessa certificação no mercado atual e esperava uma experiência educacional de qualidade.
O que não esperava era descobrir, logo nas primeiras aulas, que todo o curso é ministrado por uma versão digital do suposto instrutor Venilton, com voz e imagem completamente geradas por inteligência artificial. Após essa descoberta, verifiquei aulas de módulos mais avançados apenas para confirmar: nenhum professor real aparecia em momento algum.
Não me entendam mal. Não sou contra inovações tecnológicas ou o uso de IA como ferramenta complementar ao ensino. O problema é que em nenhum momento durante o processo de matrícula ou na descrição do curso essa informação foi transparentemente divulgada.
Após algumas poucas aulas, comecei a sentir dor de cabeça. Há algo no tom robótico, nas expressões faciais sutilmente artificiais, que cria uma experiência de aprendizado cansativa e impessoal. A "uncanny valley" educacional é real, e mesmo o breve contato que tive foi suficiente para causar desconforto.
Diante disso, optei por cancelar minha matrícula específica nessa formação. Felizmente, como assinante da plataforma, ainda tenho acesso a diversos outros cursos ministrados por instrutores reais, então o prejuízo foi mais de tempo do que financeiro. Ainda assim, a experiência deixou um gosto amargo.
O que mais me preocupa é que essa possa ser uma tendência crescente. Se hoje uma formação completa sobre AWS está sendo entregue dessa forma sem transparência, quantas outras podem seguir o mesmo caminho? Como consumidor de conteúdo educacional, quero saber antecipadamente o que estou recebendo.
A DIO poderia facilmente ter sido transparente: "Este curso utiliza tecnologia de IA para criar experiências de aprendizado" ou algo similar. Essa informação teria me permitido fazer uma escolha consciente sobre como investir meu tempo.
A tecnologia deve aprimorar a educação, não substituir silenciosamente o elemento humano sob o pretexto de inovação. A confiança é fundamental em qualquer relação comercial, especialmente quando falamos de educação e desenvolvimento profissional.
Para outros estudantes que valorizam a conexão humana na educação, meu conselho é: verifiquem antes se estão investindo tempo em um professor real ou em uma simulação. E para as plataformas educacionais: sejam transparentes sobre suas práticas. A honestidade com seus usuários é o mínimo que se espera.