O impacto da tecnologia na sustentabilidade corporativa e a integração dos critérios ESG: o estudo da empresa iFood
RESUMO
A sigla ESG, que, em inglês, significa Environmental, Social and Governance, em português, é livremente traduzida como “Meio ambiente, Social e Governança”, podendo o termo ESG ser definido como o conjunto de práticas adotadas no âmbito das empresas que atuam em prol do meio ambiente, do social e que cuidam de sua governança. Trata-se de práticas empresariais ou investimentos cuja finalidade está intrinsecamente relacionada às questões de sustentabilidade, evidenciando uma preocupação empresarial que vai muito além do lucro. Os consumidores passaram a ser mais exigentes em relação àquilo que consomem e as empresas também ficaram mais atentas a essa mudança de comportamento, sendo que a integração da sustentabilidade tornou-se uma prioridade para empresas de todos os setores, pois os consumidores optam por produtos de marcas que apresentem responsabilidade ambiental como um de seus valores corporativos. O corpus da pesquisa é constituído por coleta de dados (acervos físicos e digitais) referentes ao intervalo entre 2020 e 2023, buscando investigar as medidas adotadas pela empresa iFood antes e após o advento da pandemia de Sars cov 2, período em que foi intensificado o uso da tecnologia para serviços de delivery, tais como entregas de medicamentos, produtos em geral, serviços de mercado etc. O objetivo é o de mostrar a importância do alinhamento das pautas ambientais com as questões corporativas, sendo que a tecnologia é uma forte aliada para isso, tornando as suas práticas mais sustentáveis e, consequentemente, atribuindo maior valor de mercado para as empresas comprometidas com essa pauta, atraindo, assim, mais investidores e consumidores que prezam por tais práticas sustentáveis no mercado. Diante desse desafio contemporâneo, o objeto de estudo, no presente artigo, é a empresa de entrega iFood, por ter se tornado, durante o supracitado período pandêmico, uma forma de disponibilização de serviços muito popular entre os consumidores brasileiros e, portanto, uma empresa interessada em transmitir ao público consumidor uma imagem de valorização de hábitos sustentáveis e cuidados com sua forma de atuação em relação ao meio ambiente. Afirma-se, preliminarmente, que, no caso em análise, as pautas do meio corporativo do iFood visam ao incentivo da preservação do meio ambiente substituindo, por exemplo, o plástico por embalagens sustentáveis de papel, ou, reduzindo a emissão de poluentes por meio de entregas realizadas por bicicletas ou motos elétricas, estando as referidas condutas em conformidade com as práticas ESG, conforme demonstra o relato de impacto da empresa, publicado no ano de 2021. Como ponto negativo nas práticas da empresa, pudemos observar as elevadas taxas cobradas dos comerciantes parceiros, que necessitam repassar os custos das operações aos clientes, além da baixa remuneração e da inobservância das leis trabalhistas praticadas pela plataforma em relação aos seus entregadores.
Palavras-chave: ESG; sustentabilidade; iFood; tecnologia.
1. INTRODUÇÃO
No mundo contemporâneo, com o predomínio da tecnologia em nosso cotidiano, as empresas passaram a se valer dessa onipresença para agilizar as suas metodologias de trabalho. Contudo, os rápidos avanços tecnológicos também trouxeram um novo problema para as empresas: o alinhamento do uso dessa nova tecnologia com o monitoramento dos critérios e das informações da agenda ESG.
No presente trabalho, foi realizado um estudo de caso sobre a aplicação das práticas ESG na maior empresa de delivery do Brasil (Tecnoblog, 2022), que se mostrou revolucionária na aplicação de práticas ambientais dentro de um curto espaço de tempo, tornando-se uma referência a ser seguida outras empresas.
Insta ressaltar que, o objetivo da pesquisa aqui empreendida é o de mostrar a importância do alinhamento das pautas ambientais com as questões corporativas, sendo que a tecnologia é uma forte aliada para isso, tornando as suas práticas mais sustentáveis e, consequentemente, atribuindo maior valor de mercado para essas empresas, atraindo mais investidores e consumidores que prezam por tais práticas sustentáveis no mercado.
A partir de uma conferência promovida pela ONU, na década de 70, voltou à tona a preocupação com as questões ambientais, aliadas ao surgimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que são um apelo global para acabar com a pobreza, proteger o meio ambiente e o clima (BRASIL, 2024) e da Agenda 2030, que é um plano global para se atingir, até 2030, um mundo melhor para todos os povos e todas as nações (STF, 2024).
O iFood, hoje, é uma plataforma que viabiliza entregas de alimentos, bebidas, itens de farmácia e produtos para animais de estimação, que conecta consumidores, estabelecimentos comerciais e entregadores. O aplicativo iFood é gratuito e foi um dos mais baixados na categoria de Comidas e Bebidas nas lojas de aplicativos Apple Store e Play Store durante o ano de 2020 entre os brasileiros (Exame, 2021).
Devido ao grande interesse nas questões sustentáveis, empresas como o iFood buscam, cada vez mais, atuar de maneira sustentável, visando a atender a demanda de consumidores, de investidores, de parceiros de trabalho e também, por meio disso, atrair um novo público, para o qual as questões ambientais são imperativos inadiáveis.
O modelo construído pela empresa em questão representa uma tentativa bem-sucedida de integração de interesses ambientais com as necessidades e exigências do público consumidor, o que acabou se revertendo em uma espécie muito favorável de marketing e de visibilidade positiva para a empresa, razões pelas quais adotamos o iFood como objeto de análise.
Mesmo com a inexistência de padrões e métricas claros, o que propõem as práticas ESG é a implementação de valores que visem a guiar e orientar as práticas empresariais no sentido da ética, do respeito ao meio ambiente, do respeito à diversidade humana e da sustentabilidade.
As pautas ambientais no meio corporativo são incentivadas através de uma participação mais ativa de outros setores das empresas como, por exemplo, o setor de tecnologia, que poderá implementar e atualizar ferramentas de trabalho; o departamento de marketing dirigido, que ajudará a divulgar as ações de sustentabilidade da empresa que a tornam mais atrativa para investidores e consumidores etc.
Os serviços oferecidos por empresas, como o iFood, durante a pandemia, tornaram-se essenciais, pois se buscou investir em tecnologia e inovação em suas ações ambientais. Também no período pandêmico, no qual houve a escassez de mão de obra devido ao receio das pessoas de contraírem a doença, até então sem cura, fez com que a empresa pautasse as suas ações na agenda ESG, num momento em que as empresas, em geral, passaram a repensar o seu papel na sociedade.
O constante exercício adaptativo do iFood, bem como o seu reposicionamento de oferta de valor ao mercado, fizeram com que ele alavancasse o seu crescimento e também mantivesse a sua base de clientes.
A tese de doutorado “As novas formas de trabalho no mundo dos aplicativos: o caso “UBER”, escrita por Fausto Figueira Gaia (Gaia, 2019), demonstra que:
O incremento tecnológico da informação provocou, em primeiro lugar, uma maior participação do trabalho imaterial no processo de produção. O trabalho ligado ao desenvolvimento e aprimoramento de sistemas, softwares e aplicativos permitiu a inserção de valor a bens e serviços dispostos no mercado consumidor. As empresas passaram a centralizar a força de trabalho no desenvolvimento de novas tecnologias, transferindo, em boa parte, para terceiros, a execução desses serviços (p. 76).
Partindo do fato de que a tecnologia foi a ferramenta que impulsionou o crescimento e a popularidade do iFood, o objetivo desta pesquisa é observar, a partir da experiência dessa empresa, como pôde se dar a construção de um modelo sustentável de negócios a servir de inspiração e exemplo de insights para outras empresas interessadas em corresponder às práticas definidas pela agenda ESG, garantindo um desenvolvimento responsável.
As empresas se motivam a incorporar o ESG como forma de evitar riscos à sua reputação, podendo uma determinada decisão errada impactar de forma negativa, de acordo com as práticas adotadas por elas no que tange à transparência, à ética e à sua conduta.
A pesquisa do presente tema é importante, pois o iFood é a maior plataforma de delivery no Brasil e suas ações influenciam tanto o mercado como a sociedade a analisar de que forma uma empresa desse porte atua frente à aplicação de princípios ESG, podendo fornecer insights para outras empresas trilharem o mesmo caminho e também para o desenvolvimento de políticas públicas, regulamentações e práticas empresariais mais sustentáveis e éticas.
Ademais, a sustentabilidade corporativa e a agenda ESG estão cada vez mais importantes nas empresas, não apenas por razões éticas e ambientais, mas também como uma questão de posicionamento da marca frente aos investidores, além de formação e retenção de novos talentos, fidelização e conquista de novos consumidores.
2. REFERENCIAL TEÓRICO
O acesso à informação e à consciência quanto às questões ambientais, tornaram o consumidor o protagonista de suas escolhas, vez que esse opta, cada vez mais, por consumir produtos de empresas que são ecologicamente sustentáveis e, por sua vez, as empresas também ficaram mais atentas a essa mudança no perfil de comportamento.
Um dos principais benefícios da adoção de práticas ESG, portanto, é o fortalecimento da reputação da empresa frente ao mercado e aos consumidores. Na obra “ESG: guia essencial para uma prática sustentável” (2023a), Delmo Fonseca afirma que:
Ao demonstrar compromisso com questões ambientais, sociais e de governança, as organizações ganham a confiança dos consumidores, investidores e demais stakeholders. Isso resulta em uma imagem positiva no mercado, o que pode se traduzir em vantagens competitivas, fidelização de clientes e atração de talentos (p. 185).
Ainda de acordo com esse autor, as práticas ESG são uma ferramenta que nos permitem analisar de forma mais precisa e detalhada o grau de comprometimento de uma organização com a sustentabilidade.
Já na obra “ESG na Prática Rumo à Excelência Corporativa Ambiental, Social e Governança” (2023a), Fabrício Sales nos ajuda a compreender a base da presente pesquisa, ensinando que os consumidores podem influenciar os padrões de consumo, fazendo com que as empresas se adaptem às suas necessidades:
Os consumidores podem influenciar o ambiente da mesma forma que o ambiente pode influenciar os consumidores. Por isso, mudanças nos padrões de gasto e de poupança do consumidor podem influenciar a economia. Mudança na escolha dos produtos, optando por produtos verdes ou menos agressivos ao meio ambiente, promoverão alterações na forma de produção das empresas. Ao buscar um modo de viver mais responsável, o consumidor passa a se preocupar mais com a questão ambiental. (Posição 826)
Para uma sociedade que é hiperconsumista, é imperioso adotar comportamentos mais conscientes acerca das escolhas de consumo, no que diz respeito tanto a escolhas de produtos, de bens e de serviços quanto ao processo de fazer com que a vida do consumidor contemporâneo se torne menos onerosa, sem deixar de ser agradável.
Por sua vez, os stakeholders, representados nas pessoas dos acionistas, funcionários, clientes, fornecedores, comunidades locais, investidores, ONGs, governos e outros atores dispõem de interesses nas atividades executadas e nos resultados obtidos pela empresa, sendo eles um dos principais responsáveis pela implementação e engajamento da agenda ESG.
Nesse sentido, a obra “ESG na Prática Rumo à Excelência Corporativa Ambiental, Social e Governança” (2023a), Fabrício Sales nos ensina que “através de diálogos abertos e transparentes, a empresa pode entender melhor as necessidades e preocupações de cada grupo, identificando as questões ESG mais relevantes para as suas operações e estratégias”. (Posição 462)
Cabe mencionar também a contribuição de Guilherme Ribeiro, na sua obra “ESG nos negócios: como gerar valor com ética e transparência” (2023):
[...] integrar questões ambientais, sociais e de governança nas operações de negócios é fundamental para garantir que as empresas estejam alinhadas com as expectativas e normas do mercado e para gerar valor financeiro para os seus acionistas. 83% dos consumidores gostariam que as empresas adotassem a prática ESG e 86% dos colaboradores gostariam de trabalhar em empresas com práticas ESG (p.14).
No tocante à questão do “Social”, a obra “ESG na Prática Rumo à Excelência Corporativa Ambiental, Social e Governança” (2023a), do professor Fabrício Sales, contribuiu para a pesquisa ao declarar que: “[...] as empresas devem considerar a equidade e a inclusão em suas operações, promovendo a diversidade em seus quadros de funcionários e garantindo condições de trabalho seguras e justas” (Posição 471).
Na obra “ESG: o presente e o futuro das empresas” (2023), Ricardo Ribeiro Alves ensina que “ter um mundo ambientalmente viável e socialmente justo passa pela modificação do hábito das pessoas. O bem-estar ambiental e social deve ser entendido não apenas como um direito, mas também como dever das pessoas” (p.125). Nessa mesma obra, o autor declara a importância do empoderamento feminino dentro do ambiente empresarial, defendendo que ele pode ser alcançado, na prática, através da aceitação do ponto de vista feminino, promovendo esforços para buscá-lo e legitimá-lo, elevando o status das mulheres por meio da educação, da conscientização, da alfabetização e de treinamento, promovendo um ambiente mais igualitário e atento às trabalhadoras.
A obra “ESG na Prática Rumo à Excelência Corporativa Ambiental, Social e Governança” (2023a), do professor Fabrício Sales, auxilia-nos a compreender a dimensão da governança: “Através de diálogos abertos e transparentes, a empresa pode entender melhor as necessidades e preocupações de cada grupo, identificando as questões ESG mais relevantes para suas operações e estratégias”. (Posição 462)
Sobre o tema, ainda na mesma obra, é demonstrado que:
A dimensão de governança refere-se à adoção de práticas éticas, transparentes e responsáveis na gestão da empresa. É fundamental estabelecer uma estrutura de governança sólida, com conselho de administração independente e mecanismos eficazes de prestação de contas. A transparência na divulgação de informações financeiras e não financeiras também é um aspecto crucial, permitindo que os stakeholders avaliem o desempenho da empresa em relação aos critérios ESG (Posição 471-480).
A governança, no ESG, é o modo como uma empresa ou organização é administrada e se a sua administração está de acordo com os interesses de seus acionistas de forma transparente, sendo que a tomada de decisões deverá estar alinhada aos riscos e oportunidades, uma vez que práticas inadequadas podem levar a crises corporativas na empresa, ocasionando risco de crises na sua reputação.
A conferência de Estocolmo, de 1972, representou um manifesto ambiental abordando a necessidade de inspirar e guiar os povos do mundo para a preservação e melhoria do ambiente estabelecendo bases para a nova agenda ambiental da ONU (ONU Brasil, 2024). Esse manifesto contribuiu para o estabelecimento de diretrizes ambientais, e, a esse respeito, a obra Direito Ambiental (2011) da doutrinadora Maria Luiza Granziera explica uma das partes do conteúdo dessa declaração:
O uso da ciência e da tecnologia para descobrir, evitar e combater os riscos que ameaçam o meio ambiente, para solucionar os problemas ambientais e para o bem comum da humanidade, é objeto do Princípio 18, cabendo, em todos os países, especialmente naqueles em desenvolvimento, a investigação científica no sentido de facilitar a solução dos problemas ambientais, tanto nacionais como multinacionais, conforme estabelece o Princípio 20. (p. 39).
Partindo-se do fato de que a pandemia do coronavírus foi um divisor de águas na vida das empresas e na de toda a sociedade, fica evidente que todos, nesse contexto, precisaram refletir profundamente sobre seus papéis e suas responsabilidades. As práticas ESG possibilitaram, no caso das empresas, estabelecer metas bastante realistas que, além de garantirem os interesses ambientais, fossem igualmente interessantes para todas as partes envolvidas.
A obra “ESG: o presente e o futuro das empresas” (2023), do professor Ricardo Ribeiro Alves, ensina que “em relação ao elemento ambiental, mesmo que tenha sido iniciada de forma tímida no mundo corporativo, aos poucos, a sustentabilidade ambiental ganhou corpo e passou a estar inserida nas práticas e ações das empresas”. (p. 69)
Visando a compreender melhor o tema, a obra “ESG nos negócios: como gerar valor com ética e transparência”, (2023) do professor Guilherme Ribeiro, demonstra que:
É importante notar que a integração eficaz de práticas ESG nas operações de negócios requer comprometimento e liderança da alta administração, além de uma cultura organizacional que priorize a responsabilidade social e ambiental. Isso inclui a definição de metas claras e monitoramento constante dos resultados, bem como a colaboração com parceiros internos e externos que estejam alinhados aos valores e objetivos ESG da empresa. Além disso, é necessário que as empresas estejam atentas aos padrões e regulamentos relevantes, a fim de garantir a transparência e a credibilidade de suas ações. Em resumo, a integração eficaz de práticas ESG requer uma abordagem abrangente, alinhada com a cultura e valores da empresa e com a visão de futuro sustentável (Posição 18).
Dessa forma, o estudo deste tema nos auxilia a ter uma visão de critério da governança, demonstrando, em longo prazo, formas de melhoria contínua das práticas do ESG, além de monitorar e medir seus resultados financeiros relacionados, permitindo identificar as áreas com maior valor financeiro e as áreas que necessitam de maior aprimoramento mediante comunicação transparente e efetiva com os stakeholders.
3. METODOLOGIA
Em primeiro lugar, a pesquisa que aqui foi desenvolvida é do tipo documental: parte da análise de documentos, relatórios, leis e textos da literatura especializada para se obter informações relevantes e buscar demonstrar de que forma a empresa iFood pode ser considerada, em sua quase totalidade, um exemplo de sucesso de implantação de práticas, de programas, de metas, de sustentabilidade, de marketing e de inclusão social.
Assim, num primeiro momento, buscou-se na literatura disponível, a definição e as práticas que são compreendidas dentro daquilo que chamamos de agenda ESG. Nessa etapa, a consulta a diversos autores ajudou-nos a estabelecer a base do presente artigo.
Nesse sentido, recorremos às palavras do doutrinador Ricardo Ribeiro Alves, para quem o termos ESG é definido como: “[...] práticas empresariais e de investimentos que se preocupam com critérios de sustentabilidade, e não apenas com o lucro do mercado financeiro [...]” (Alves, 2023, p.14), práticas sustentáveis, essas, que devem ser incorporadas às empresas de forma orgânica, garantindo, a sua integração às necessárias medidas de cuidado, sobretudo ambiental, dado o contexto contemporâneo de graves mudanças climáticas.
Há diversas formas para identificar o padrão ESG nas empresas. De acordo com o site institucional do iFood (iFood, 2022), são as próprias companhias que publicam anualmente relatórios de responsabilidade socioambiental e de sustentabilidade, em que padronizam suas ações pelo modelo GRI - Global Reporting Initiative e que são responsáveis pela apresentação de informações acerca dos impactos provocados por sua cadeia produtiva.
Índices e certificações também sinalizam o comprometimento das empresas com causas sociais, ambientais e de governança. O Índice de Sustentabilidade Empresarial – ISE, da bolsa de valores, é um deles. Entre as certificações, uma das mais conceituadas é a do Sistema B, uma chancela do laboratório americano B-Lab, organização sem fins lucrativos, que audita empresas em relação a práticas com o meio ambiente, os colaboradores, os clientes e a comunidade, bem como procedimentos de governança corporativa (iFood, 2022).
Tudo isso revela a importância da agenda ESG, configurando-a como uma preocupação presente e futura das empresas, sendo necessário concentrar esforços em áreas que são realmente importantes, conforme ensina a obra “ESG: o presente e o futuro das empresas (2023, p. 239) de Ricardo Ribeiro Alves:
Delimitar em quais temas a empresa poderá atuar garante que os esforços sejam colocados onde é possível fazer alguma diferença, para a própria empresa e para os seus públicos de relacionamento. Na prática, significa não entrar em pautas que têm pouca relação com o negócio ou que não são relevantes para os stakeholders.
O período delimitado para esta pesquisa foi o período pandêmico, que compreendeu os anos de 2020, 2021 e 2022. No caso da empresa analisada, observa-se que a prestação de contas, sobre tudo que diz respeito aos padrões ESG, passou a ser divulgada sob a forma de relatórios padronizados apenas a partir de 2021, o que significa que, antes disso, as ações referentes à pauta ESG eram esporadicamente publicadas, de forma avulsa, no site institucional da empresa, sob a forma de boletins e de notícias. A mudança para o atual modelo de relatórios anuais facilitou a consulta e o registro de todos os dados coletados para o corpus desta pesquisa material do qual retiramos as informações pertinentes ao foco de nossa observação científica.
De acordo com os relatórios de sustentabilidade do iFood de 2021 e de 2022/2023, disponíveis para consulta na internet, verificou-se que a empresa, ao abraçar os objetivos da agenda ESG, criou, internamente, uma área que chamou de EMI – Educação, Meio Ambiente e Inclusão –, destinada a observar de quais formas poderia harmonizar a sua atuação interna e externa com as pautas sustentáveis.
O relatório de 2021 foi o primeiro relatório explicitamente voltado à pauta de ESG no iFood, que destacou os principais avanços dos compromissos públicos da empresa nas áreas de Educação, Meio Ambiente e Inclusão, seja em parceria com a iniciativa privada ou com Organizações Não Governamentais. O Relato de Impacto reuniu resultados de programas do iFood que tiveram início em março de 2021, quando a empresa lançou a área de EMI e selou compromissos públicos amparados por 4 dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas, que mais se adequavam ao negócio naquele momento. Fome zero e agricultura sustentável (ODS 2), Educação de qualidade (ODS 4); Igualdade de gênero (ODS 5) e Ação contra a mudança global do clima (ODS 13) foram os objetivos escolhidos e incluídos nas diretrizes do dia a dia da companhia.
A preocupação com valores, que vão além das perspectivas financeiras, fez a foodtech dar uma virada de chave, mais especificamente, durante o mencionado período pandêmico, recorte da nossa pesquisa. Os novos desafios fizeram a empresa estabelecer frentes de atuação nas áreas ambiental, social e de governança, também devido às novas formas de consumo e aos novos hábitos adquiridos pela população, que estava reclusa em suas casas.
A criação do setor EMI dentro da foodtech foi a materialização do compromisso da empresa com os valores e práticas da agenda ESG, razão pela qual o presente estudo encontrou, na prática observada e analisada por meio dos relatórios disponibilizados e compromissos selados, um exemplo de atuação, interna e externa, capaz de inspirar ou mesmo servir de modelo a outras empresas, dada a sua efetividade e amplitude, promovendo diferenças reais no cotidiano de todos os envolvidos, além, é claro, de um importante respiro para o meio ambiente.
A sigla EMI, portanto, representa a união de focos e interesses ESG, sendo assim descrita pela empresa:
· “E” significa Educação, mostrando que a empresa acredita que, somente por intermédio de uma educação de qualidade, mais e melhores escolhas serão possíveis, criando oportunidades, ensinando e aplicando a tecnologia. O relatório de 2021 da empresa dispõe que, até 2025, o iFood compromete-se publicamente a formar e a empregar 25 mil pessoas de públicos sub-representados e de baixa renda no ramo da tecnologia, capacitando mais de 5 milhões de pessoas para o trabalho com ela e também para o empreendedorismo, além de incentivar a educação básica, impactando a vida de mais de 5 milhões de pessoas (iFood, 2021).
·Já o “M” representa o meio ambiente e revela a preocupação da empresa com a sustentabilidade e o uso otimizado da tecnologia para promover entregas e serviços com impacto ambiental mínimo. São compromissos da área ambiental do iFood: zerar, até 2025, a poluição plástica no delivery com o desenvolvimento de features no aplicativo para reduzir o envio de itens plásticos de uso único (como canudo e talher), além do estímulo ao uso de embalagens sustentáveis e o fortalecimento da reciclagem, além de mensurar, reduzir e neutralizar todas as emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) do negócio (iFood, 2021).
·Quanto ao “I”, que termina a sigla, ele se refere à inclusão, revelando a intenção da foodtech de construir uma equipe cada vez mais diversa e representativa, em consonância com os interesses e as necessidades da sociedade contemporânea. A empresa acredita, conforme declarado num de seus relatórios consultados, que a pluralidade e a colaboração são ingredientes essenciais para seguir inovando e, segundo slogan interno, “para alcançar o sonho de alimentar o futuro do mundo” (iFood, 2021). Ainda no que diz respeito à inclusão, faz parte dos objetivos declarados da empresa ajudar na superação das mazelas sociais, usando a tecnologia para garantir alimentação, reduzir desperdícios e criar oportunidades para quem mais precisa, priorizando seus parceiros e familiares, a periferia, mulheres e pessoas negras.
Portanto, para chegarmos à demonstração do referido modelo de integração da pauta ESG ao cotidiano da empresa, foram coletados dados oriundos da análise de conteúdo para identificar padrões emergentes, necessários em caráter urgente, para o perfeito funcionamento de qualquer empresa contemporânea que queira manter vivo o interesse de seu público consumidor, do mercado e de seus investidores.
Observando as medidas descritas pelo iFood em seus relatórios de impacto, foi possível perceber como as preocupações e metas ESG ganharam corpo e forma, de maneira prática, no cotidiano da empresa, criando um modelo não só interessante, como também bastante integrado ao ecossistema da foodtech, revelando-se, de maneira concreta, como um exemplo a ser seguido, ou mesmo, ser utilizado como fonte de inspiração por outras empresas em tempos que clamam por soluções ecologicamente corretas diante da degradação ambiental.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Analisando o tema, é importante notar que a integração das práticas ESG nos negócios envolve múltiplos fatores e requer comprometimento e liderança da alta administração das empresas. No caso da empresa em estudo, fica claro que, dentro de um curto espaço de tempo, tendo em vista que ela tem apenas 13 anos de existência, sua representatividade é notável dentro do mercado brasileiro.
A foodtech iFood é brasileira e se tornou referência em delivery na América Latina, tendo sido criada pelos sócios Patrick Sigrist, Eduardo Baer, Guilherme Bonifácio e Felipe Fioravante, em 15 de maio de 2011, na cidade de São Paulo (Sebrae, 2022).
De acordo com o site institucional da empresa, no ano seguinte, em 2012, foram lançados o site e o aplicativo para dispositivos móveis (sistemas Android e IOS), com o fim de otimizar a experiência através de uma nova forma de consumo. No ano seguinte, a empresa recebeu investimentos da Movile, grupo brasileiro criado no fim dos anos 1990, por Fabricio Bloisi —atual presidente da empresa— e que investe em negócios na área de tecnologia. Desde 2022, a Movile já era acionista majoritária da empresa, e, em novembro do mesmo ano, adquiriu a fatia restante (33,3%) da então acionista minoritária, a Just Eat Holding Limited.
De acordo com informações disponíveis no site da empresa, atualmente, o iFood atua em dois modelos de operação, a saber:
Marketplace, que é o modelo utilizado em 61% das vendas feitas no aplicativo do iFood, por meio do qual as entregas são feitas pelos estabelecimentos, que possuem entregadores próprios ou terceirizados, sem relação com o aplicativo. São os restaurantes e mercados que definem a taxa de entrega e gerenciam seus entregadores.
Full service ou entrega parceira, no qual as entregas são feitas pelos colaboradores cadastrados na plataforma do iFood —o modelo é usado em 39% das vendas no aplicativo. Nesse modelo, é o iFood que se encarrega da inteligência logística para alocar os entregadores e definir a taxa e o tempo de entrega. Além disso, no Full Service, os entregadores podem trabalhar em duas modalidades: nuvem (entregadores autônomos) ou OL (sigla para Operador Logístico). Essas modalidades se complementam para que a demanda seja suprida oferecendo a melhor experiência para os clientes e os restaurantes, além de contribuir com os propósitos da agenda ESG ao diminuir a emissão de gases poluentes buscando a forma de entrega mais rápida e sustentável para concluir o atendimento ao cliente (iFood, 2022/2023).
No período pandêmico, os esforços do iFood fizeram-se notar ainda mais, diante das restrições de trânsito e da obrigatoriedade, por força de lei, de os bares e restaurantes operarem somente através de entregas. Com uma logística otimizada e atenta, durante a pandemia, a base operacional do iFood cresceu de forma exponencial, atingido a marca histórica de 39 milhões de pedidos por mês em sua plataforma, em agosto de 2020 (Linkedin, 2021).
O exemplo do iFood ajuda a demonstrar que, mesmo sob fortes pressões externas, é possível e desejável crescer de forma inteligente e sustentável, porque o público consumidor valoriza iniciativas que, além de suprirem suas necessidades, respeitam o meio ambiente e contribuem para um modelo sustentável de negócio.
É interessante observar que o pioneirismo do iFood já se havia feito notar quando, uma década antes, em 2011, a empresa resolveu investir num aplicativo próprio, numa época em que esse recurso ainda não era tão popular e os smartphones não contavam com muitos aplicativos disponíveis.
As atividades da empresa, que antes operava na forma de call center, expandiram-se do primeiro formato de operação para um data center convencional e, posteriormente, para o ingresso no sistema de nuvem. A velocidade de crescimento do negócio sempre foi grande e tornava necessária a utilização da tecnologia, pois todos os dias precisavam gerar mais links e servidores, de modo que se perdia muito tempo. A partir desse momento, foi necessário investir na infraestrutura da empresa, migrando para um sistema em nuvem, com o fim de otimizar o tempo e focar no negócio.
A migração para nuvem foi um marco para o iFood, pois a tecnologia deixava de correr atrás do cliente e, hoje, passou a propulsionar o crescimento da empresa por intermédio de machine learning que, por exemplo, apresenta aos consumidores recomendação de pratos dentre outras funcionalidades.
O objetivo, depois de migrar para a nuvem, era proporcionar recursos para o crescimento do negócio de modo que ele atuasse de forma periódica e sazonal, almoço e jantar, que são as fases de maior demanda, sendo importante mecanismo para a otimização do serviço e, consequentemente, conquistando um número maior de clientes.
Esse olhar atento para a atualização tecnológica sempre foi um valor sustentado pela empresa, evidenciando que a tecnologia cumpre um papel importante no atendimento inteligente das demandas do consumidor. Não obstante, o investimento em tecnologia revelou-se, também, um poderoso aliado para o estabelecimento de práticas sustentáveis, fazendo com que o iFood se destacasse em ambas as frentes: tecnologia e sustentabilidade.
Observa-se, portanto, que a foodtech iFood alinha as suas práticas pautadas na tecnologia, analisando o perfil de consumo e solucionando e mitigando eventuais problemas ao meio ambiente seguindo, dessa forma, o que estabelece a conferência de Estocolmo de 1972. Assim, no que tange a questão ambiental, o iFood adotou práticas sustentáveis como, por exemplo, o uso de embalagens recicláveis, uso de recursos não poluentes, pois, durante o ano de 2023, de acordo com o relatório fornecido pela empresa, um em cada cinco pedidos foram entregues pelo iFood através de bicicletas tradicionais ou bicicletas e motos elétricas, reduzindo as emissões de gases de efeito estufa, processo por meio do qual a empresa busca compensar as emissões de gases lançados na atmosfera decorrentes das entregas efetuadas de modo tradicional, substituindo-as por entregas neutras com a aquisição de créditos de carbono _ que consiste em um mecanismo que funciona como um sistema de balanço, no qual as emissões de gases são contrabalançadas por ações que as neutralizam ou as reduzem. O fundamento desse sistema reside no princípio de que cada tonelada de emissão de gases de efeito estufa pode ser “compensada” por uma atividade equivalente que remova ou evite a mesma quantidade de emissões em outro lugar. Essa abordagem oferece uma maneira flexível para as organizações e governos cumprirem suas metas ambientais, enquanto promovem práticas sustentáveis, entre outros casos. Esse modelo, como podemos observar, apresenta-se como uma solução muito interessante e ecologicamente correta para toda e qualquer empresa que, assim como o iFood, possua um sistema de entregas de seus produtos aos seus consumidores.
Vale destacar que, nesse mesmo sentido, dentre os inúmeros projetos da empresa relacionados à área ambiental decorrente da prática ESG podem ser mencionados ainda: o compromisso de zerar a poluição plástica no delivery, o de neutralizar as emissões de gases de efeito estufa (GEE), de neutralizar as emissões de carbono nas entregas, de reduzir o envio de itens plásticos de uso único (como canudos e talheres), além do estímulo ao uso de embalagens sustentáveis nas entregas até 2025, sendo esse, um compromisso público da empresa selado no relatório de impacto do ano de 2021(iFood, 2021).
Ainda é digno de menção o projeto chamado iFood Regenera, um conjunto de planos ambientais da plataforma, baseado em metas de sustentabilidade. Para viabilizá-lo, a empresa assumiu o compromisso de investir constantemente nas áreas da inovação, da pesquisa e do desenvolvimento, para poder se tornar uma referência na operação de delivery sem impactos ambientais.
O iFood Regenera possui duas grandes metas: acabar com a poluição plástica das suas operações de delivery e tornar-se neutra na emissão de carbono até 2025, esperando que, pelo menos, 50% de suas entregas sejam feitas em modais não poluentes (iFood Regenera, 2022).
Para concluir esse objetivo, o iFood conta com diversas iniciativas, dentre elas, o investimento em veículos sustentáveis, como bicicletas e motos elétricas (iFood Regenera, 2022).
Além disso, destaca-se o fato de que a empresa também se dedica ao desenvolvimento de embalagens sustentáveis, que não agridem o meio ambiente, e que ela invista na criação de cooperativas de reciclagem, atuando para ampliar sua capacidade produtiva, melhorando, inclusive, a renda dos cooperados.
É importante frisar que as ações de ESG do iFood no campo ambiental estão alinhadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, no Pacto Global, do qual a empresa é signatária, cabendo também ressaltar que a empresa dispõe de políticas de ESG bem-definidas, monitoradas e mensuradas, podendo o resultado ser conferido no Relatório de Impacto de 2021 (iFood Institucional, 2023). Esses compromissos públicos reforçam a imagem da empresa diante do mercado, dos seus investidores e dos seus consumidores, mantendo a empresa no radar daquelas que estão preocupadas com o seu crescimento sustentável.
Já como um valor de governança, a empresa reconhece que ganhar dinheiro à custa da deterioração acelerada do planeta e de forma desmedida em relação à exploração das pessoas (embora pesquisas recentes, permitam-nos tecer algumas críticas a esse respeito, das quais falaremos no tópico posterior) já não é mais um caminho a ser seguido.
No relatório referente ao ano de 2022/2023, disponibilizado pela empresa, observa-se que, quanto à transparência, a governança desempenha um papel fundamental dentro do iFood, que, por meio de tais relatórios, contendo os resultados da empresa, mantém o Código de Ética e Conduta de Terceiros, trazendo, assim, mais segurança para investidores e stakeholders. Outra medida objeto da governança que estimula boas práticas dentro da agenda ESG é a segurança de dados dos consumidores, por meio do seu Portal de Privacidade, no qual estão listadas todas as informações protegidas, com o objetivo de dar mais segurança e proteção a esses dados, na forma da lei, mediante monitoramento, testes de segurança e criptografia (iFood, 2022/2023).
Podemos observar, ainda, no relatório referente ao ano de 2022/2023, que quanto à transparência, a empresa dispõe de um programa de integridade que é baseado em oito pilares que visam prevenir, detectar e remediar ações que possam interferir nos valores e princípios estabelecidos no Código de Ética e Conduta da empresa, protegendo os negócios e a cadeia de valores em que estão inseridos.
Periodicamente, as atividades do programa de Integridade são reportadas ao Comitê de Auditoria e Riscos. Esse processo tem como finalidade manter os membros do comitê informados sobre o andamento do programa por meio de indicadores e/ou endereçar pontos críticos de riscos. As ações realizadas são comunicadas por representantes da alta administração da empresa, incluindo iniciativas como o lançamento do Código de Ética e Conduta, treinamento interno e outras comunicações relevantes (iFood, 2022/2023, p.102).
No mesmo relatório, ainda pode ser observado que a empresa segue criteriosamente os padrões estabelecidos pela legislação aplicável à proteção de dados pessoais, como a Lei Geral de Proteção de Dados (Lei Federal nº. 13.709/2018), o Marco Civil da Internet (Lei Federal nº. 12.965/2014) e seu Decreto regulamentador nº. 8.771/2016, e as demais normas setoriais sobre proteção à privacidade e aos dados pessoais.
Todo dado coletado tem finalidade específica e é informado ao seu titular por meio da Declaração de Privacidade, documento no qual é dada transparência sobre as atividades de tratamento de dados pessoais. Também é comunicado sobre as atualizações da declaração e, além disso, a retenção de dados é realizada durante o prazo e de acordo com os critérios definidos na política interna para esse fim, e, para prevenir vetores de riscos, são adotados alguns processos como a instalação e a gestão de antivírus nos devices corporativos; a aplicação de patches de segurança nos Sistemas Operacionais Windows, Linux e MacOS; a proteção de borda (network) com a gestão de Firewall; gestão de dispositivos móveis por meio do MDM; classificando a informação e prevenindo a perda de dados com ferramenta de DLP. Além disso, são avaliados os fornecedores e é feita a análise de risco para verificar se atendem aos requisitos de segurança, assim como são realizados os treinamentos e as ações de conscientização para os colaboradores, os chamados FoodLovers - que é como os colaboradores do iFood são denominados (iFood, 2024), sobre temas relacionados à eficiência e à segurança (iFood, 2022/2023, p. 109).
Tais medidas, desempenham um papel fundamental dentro do iFood, pois trazem mais segurança para investidores e stakeholders, contribuindo para a credibilidade e a consolidação da empresa no mercado brasileiro.
Quanto ao “Social”, os consumidores têm exigido uma maior diversidade, mais equidade na distribuição de cargos, além da inclusão e de relações estreitas com as comunidades, abrangendo, ainda, as relações da empresa com os seus colaboradores, na promoção de direitos trabalhistas, do bem-estar de fornecedores, consumidores e comunidades do entorno, de modo a colocar as práticas ESG cada vez mais em evidência, garantindo um mundo melhor, mais justo e igualitário.
Nesse sentido, o pilar social, dentro da organização da empresa, faz-se perceber, efetivamente, por meio do respeito às ações voltadas para o bem-estar das pessoas envolvidas no seu ecossistema, como a promoção da diversidade e da inclusão, do respeito aos direitos humanos, e da promoção da segurança dos trabalhadores, além da contribuição para as comunidades onde a empresa atua.
Com relação às políticas de inclusão de diversos grupos sociais, promoção da igualdade de gênero em diferentes cargos e no firme propósito de abraçar a diversidade, o que se revela como um valor de extrema importância no contexto contemporâneo, o iFood toma cuidados especiais, visando atender a todas essas questões.
Com a responsabilidade de reverter indicadores de desigualdade de qualquer tipo no ambiente interno, a empresa considera a agenda de diversidade e inclusão em seus compromissos. No relatório referente aos anos de 2022/2023, inclusive, encontrava-se expresso o objetivo de “ao fim de 2023, atingir uma liderança composta por 50% de mulheres e 30% de pessoas negras, além de 35% de mulheres na alta liderança e 40% de pessoas negras no iFood”.
Além disso, para que as pessoas de grupos sub-representados se sintam pertencentes e incluídas, a empresa criou e mensurou o Índice de Segurança Psicológica. Até março de 2023, foram conquistados alguns marcos nessa jornada tão importante. Foram registrados 17,8% de pessoas negras em cargos de liderança e 30,1% no quadro geral de colaboradores. Foi registrada também a significativa marca de 45,4% de mulheres ocupando cargos de liderança, sendo 36% deles de cargos de alta liderança. Isso demonstra a evolução e o comprometimento em seguir avançando nessa agenda. (Relatório de sustentabilidade de 2022/2023, p.35).
Dentre os inúmeros programas de aperfeiçoamento profissional da empresa dedicados às mulheres, destaca-se o “Agora é que são elas”, que, segundo o próprio iFood, é descrito como um programa interno criado para impulsionar o desenvolvimento de mulheres que ainda não são líderes ou que acabaram de assumir uma posição de liderança na empresa.
O objetivo desse programa é o de acelerar o crescimento profissional e trazer discussões relevantes durante os encontros. Temas pertinentes aos desafios que as mulheres enfrentam em experiências de gestão são abordados pelo programa (Relatório de sustentabilidade de 2022/2023, p. 38).
Outro projeto também voltado à área da educação, dedicado a promover a inclusão de pessoas de baixa renda e sub-representadas no setor de tecnologia, é Movimento Tech, uma coalizão de instituições da qual o iFood é cofundador. Esse projeto tem como função despertar, preparar e capacitar o seu público-alvo, empregando essas pessoas na área da tecnologia, contribuindo para a construção de um setor tecnológico mais forte e equitativo.
Ainda dentro da lógica inclusiva defendida pela empresa, é de extrema importância relatar o trabalho que é realizado em relação aos colaboradores transgêneros, um dado que não só demonstra o compromisso do iFood em abraçar a diversidade, mas também, mais uma vez, coloca-o como exemplo a ser seguido por outras empresas. Internamente, o grupo trata a questão com máximo respeito, oferecendo-lhes assistência financeira, jurídica e psicológica, subsídio para o tratamento hormonal e para a cirurgia de redesignação de gênero. Também dentro de sua atenção para com a comunidade LGBTQIA+, é importante ressaltar que o iFood oferece a licença-maternidade e paternidade para casais homoafetivos, observando a igualdade de gêneros (iFood, 2022/2023, p. 28).
Em atenção à necessidade de inclusão da população negra, segundo relatório de 2022/2023, em outubro desse ano, a empresa alcançou a marca de 18% de colaboradores negros em cargos de liderança e 30,8% de colaboradores negros em outros cargos — para efeitos de comparação, é importante relatar que, em 2019, esses números eram de, respectivamente, 14% e 21%, demonstrando, dessa forma, uma evolução positiva da implementação da agenda ESG no tocante ao social.
Um dados relevante a ser ainda considerado é que os cuidados do iFood com o aspecto social vão além da simples inclusão de colaboradores diversos em seu quadro, alcançando a etapa da formação de novos talentos, por meio da criação de uma plataforma, chamada Potência Tech, que tem por objetivo conectar pessoas de perfis sub-representados ao universo da tecnologia, oferecendo-lhes a oportunidade de estudar, de maneira gratuita, através do oferecimento de bolsas de estudo, conteúdos relacionados ao desenvolvimento tecnológico, preparando futuros talentos para a inserção no mercado de trabalho, dentro da empresa ou não.
No que diz respeito à legislação brasileira, são exemplos de governança a Lei das Sociedades Anônimas (Lei n°. 6.404/76), a Lei Anticorrupção (Lei n°. 12.846/13), a Lei Geral de Proteção de Dados (Lei n°. 13.709/18), e a Lei de Licitações e Contratos Administrativos (Lei n°. 14.133/21) (iFood Institucional, 2023).
Quanto à governança, o iFood, como maior plataforma de delivery do Brasil, ocupa lugar de destaque como um exemplo de aplicação de princípios ESG, fornecendo, como pretendemos demonstrar, insights para outras empresas trilharem o mesmo caminho e, igualmente, para o desenvolvimento de políticas públicas, uma vez que, como já foi demonstrado, a empresa tem conseguido implementar em seu cotidiano práticas empresarias mais inclusivas, sustentáveis e éticas.
A atenção crescente do mercado financeiro à adoção da agenda socioambiental deve ter papel preponderante nas estratégias das empresas de capital aberto - é uma sociedade anônima (S/A) em que seu patrimônio é formado por ações negociadas na bolsa de valores (Remessa, 2021), especialmente considerando que os investidores de fundos de investimentos internacionais e nacionais são os que mais demonstram interesse no assunto.
As empresas que, em longo prazo, investirem no ESG, se tornarão mais sustentáveis, atraindo, inclusive, o interesse de gerações mais jovens como, por exemplo, os Millennials e a Geração Z, que se interessam em trabalhar em empresas com boas práticas ESG, conforme estudo global realizado pela consultoria Korn Ferry, que analisou como os Millennials, geração nascida entre 1981 e 1996, enxerga o papel da agenda ESG no mercado de trabalho atual. Após ouvir 4 mil profissionais, o levantamento concluiu que 60% dos entrevistados dessa geração se sentem mais inspirados ao trabalhar ou consumir produtos e serviços de uma empresa que tenha boas práticas nas frentes ambiental, social e de governança (Linkedin, 2023).
O índice Economic Dimension Score (EDS) dentro do conceito de materialidade financeira, estrutura a governança como um dos fatores mais relevantes de ESG (SPGLOBAL, 2019). Conhecido como pontuação da dimensão econômica, o EDS é usado para avaliar o desempenho de governança corporativa das empresas e inclui também medições relativas à qualidade de gestão de uma empresa, sua capacidade de gerenciar riscos e oportunidades em longo prazo (IFood, 2023).
O EDS também estabelece 8 critérios que definem uma boa governança: governança corporativa, códigos de conduta, gestão de riscos e crises, gestão de cadeia de suprimentos, estratégia tributária, materialidade, influência política e medição e avaliação de impacto.
No iFood, a governança tem papel fundamental dentro da transparência na divulgação de dados e resultados, na elaboração de Códigos de Ética e de Conduta dos FoodLovers e do Código de Ética e de Conduta de Terceiros que fazem parte das boas práticas de governança ESG dentro do iFood.
Seguindo as diretrizes da Lei Geral de Proteção de Dados – LGPD n°. 13.709/18, o Portal de Privacidade da empresa dá mais transparência ao seu compromisso com a privacidade, através da preservação de dados de seus usuários com base na lei e nas melhores práticas existentes no mercado, como o monitoramento, os testes de segurança e a criptografia. O canal Integridade também é um exemplo de como a transparência é um valor importante nas práticas do iFood: um espaço seguro, no qual qualquer pessoa pode, por exemplo, comunicar anonimamente (se assim desejado) condutas que não sejam éticas, transparentes, íntegras ou que estejam em desacordo com os regulamentos internos e com a legislação vigente.
A forma como é feita a proteção dos interesses dos acionistas e a divulgação sobre todos os temas citados acima também fazem parte do ESG governança.
Dentro de todo o exposto acerca de como o iFood conseguiu incorporar, com sucesso, os fatores da agenda ESG, cabe também relatar os problemas observados nessa sua trajetória. O iFood detém 80% do mercado de delivery nacional, mas, segundo levantamento realizado pela Associação Brasileira de Bares e Restaurantes - ABRASEL, cobra, em média, entre 16% e 25% de taxa dos restaurantes cadastrados na plataforma, sendo que esse número pode superar 30%, o que pode ser considerado um valor abusivo (ABRASEL, 2022). Também pode ser considerada uma prática abusiva o fato de o iFood cobras as mesmas taxas e mensalidades das grandes redes de fast-food e dos pequenos negócios filiados à plataforma. O valor que pode ser irrisório para uma grande rede, é alto demais para um pequeno comerciante que não tem o mesmo fluxo de caixa.
A pesquisa realizada pela ABRASEL faz parte de um processo em andamento no Conselho Administrativo de Defesa Econômica - CADE, que apura se há abuso de posição dominante por parte do iFood no mercado de delivery brasileiro. Some-se a isso o fato de que o valor cobrado pelo iFood é repassado pelo comerciante ao consumidor final, encarecendo consideravelmente os preços dos produtos.
Há, portanto, dentro do atual esquema de funcionamento do iFood, alguns problemas a serem solucionados em relação aos custos e, além disso, também em relação ao valor pago para os entregadores parceiros da plataforma e a falta de condições de trabalho adequadas.
Segundo dados da plataforma, em 2023, em uma jornada de 20 horas semanais, os entregadores ganharam, em média, entre R$ 807,00 a R$ 1.325,00, enquanto que, numa jornada de 40 horas semanais, eles ganharam, em média, entre R$ 1.980,00 e R$ 3.039,00, representando ganhos ficam entre R$ 8,00 e R$ 10,00 por hora trabalhada.
Por causa disso, a empresa já enfrentou paralisações e manifestações de entregadores por melhorias na sua remuneração e também pelo reconhecimento de seus direitos.
O artigo “O trabalho por aplicativos digitais no contexto da quarta revolução industrial” (2024), que trata dessa temática, mostra a decadência do modelo protetivo de trabalho e o avanço do modelo neoliberal, contribuindo para a precarização das relações de trabalho. A plataforma coloca-se apenas na condição de intermediadora entre o prestador de serviço e o consumidor, existindo uma subordinação velada, gerando uma relação civil e comercial entre o detentor do aplicativo e o entregador.
Ainda no presente artigo, é explicado que:
Depois de observar de que maneira funciona a contratação e a operação dos aplicativos digitais como o iFood verificou-se que há uma tentativa constante de exploração da força de trabalho fora do alcance do Direito do Trabalho, de modo a afastar a proteção jurídica do trabalhador (p.13).
Diante do panorama observado, porém, torna-se evidente a necessidade de implementar melhorias em relação à remuneração dos entregadores e à redução das taxas cobradas dos restaurantes e dos consumidores.
Nesse sentido, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, publicou pesquisa detalhada, demonstrando que os motoboys de aplicativos recebem valores menores por hora, trabalhando muito mais, se comparados aos profissionais que desempenham o mesmo serviço fora das plataformas, como, por exemplo, os registrados em carteira, que acumulam aumentos reais de salário nos últimos 10 anos, enquanto entregadores de aplicativo só tiveram recuo nas taxas de entregas.
O referido cenário, divulgado pelo IBGE, comprova, mais uma vez, a precária situação dos trabalhadores por aplicativos, que são reféns de um sistema exploratório e pela falta de fiscalização e não cumprimento das leis que regulamentam a categoria e as leis trabalhistas, as empresas de aplicativos, como o iFood, criam uma situação em que contratam milhares de trabalhadores sem reconhecer vínculo de emprego e os controlam sistematicamente.
Segundo a pesquisa, em média, a hora dos motoboys por aplicativos fica em torno dos R$ 8,70, enquanto que a de outros motoentregadores está na faixa dos R$ 11,90. Em relação às horas trabalhadas por semana, o montante também difere, e muito: é maior para o motoboy que trabalha para aplicativo, cerca de 47,6 horas, do que para os demais profissionais que fazem apenas 42,8 horas e que contam, ainda, com descanso remunerado, no caso dos CLTs.
Na soma geral, e mesmo com jornadas longas, o ganho médio, no fim do mês, é menor para os que trabalham para plataformas, ficando em torno dos R$ 1.784,00, enquanto que, para motoboys fora dos aplicativos, o valor sobe para R$ 2.210,00, diferença de quase 25%.
Devido à falta de fiscalização e ao não cumprimento das leis que regulamentam a categoria, somada à inobservância das leis trabalhistas, as empresas de aplicativo acabam criando uma situação problemática, na qual contratam milhares de trabalhadores sem que se reconheça o vínculo empregatício, colocando-os sob uma situação de controle sistemático, configurando uma relação abusiva de trabalho. Nesse sentido, a falsa premissa de modernização acaba por cooperar com a criação e a manutenção de um cenário extremamente desanimador.
Por isso, em Brasília, está sendo discutida, pelo governo federal e por um Grupo de Trabalho, a regulamentação do setor, porém, para os representantes dos trabalhadores - sindicatos de motofrete, motoboys, motoentregadores, motofretistas e ciclo boys - as empresas de aplicativos devem cumprir as leis existentes, que já regulamentam o serviço de entrega express, realizadas por motocicletas em todo Brasil (SINDIMOTOSP, 2023).
Além dessas leis, para os sindicalistas, já está mais que comprovado pelo Ministério do Trabalho - MTE, Ministério Público do Trabalho - MPT e o Tribunal Superior do Trabalho - TST, que essas empresas são de transporte, não de tecnologia, e devem, sim, sujeitarem-se às leis trabalhistas, além de serem enquadradas na atual legislação do trabalho, sendo essa a única forma de garantir os direitos trabalhistas, devolvendo a dignidade para milhões de pessoas.
Além disso, um novo estudo, de abril de 2024, chamado de “Dossiê das violações dos direitos humanos no trabalho uberizado: o caso dos motofretistas na cidade de Campinas” realizado por pesquisadores da Unicamp, mencionado em reportagem do The Intercept, mostrou que os entregadores que prestam seus serviços aos aplicativos estão sujeitos a altíssimos índices de acidentes de trânsito; alta incidência de pressão alta entre trabalhadores — que em sua maioria têm menos do que 40 anos de idade; a poucas horas de sono; à ausência de dias de descanso; à desidratação por causa da falta de infraestrutura básica, que são apenas algumas das violações enfrentadas por esses trabalhadores.
Cumpre frisar ainda que, segundo a supramencionada pesquisa, os trabalhadores que utilizam aplicativos como fonte principal de renda são os que têm as jornadas mais extenuantes e condições mais insalubres, além de remuneração menor. São dados também coletados da mesma pesquisa que nos mostram que, em 2020, das mais de 190 mil internações nos hospitais do Sistema Único de Saúde, 61,6% dos pacientes eram motociclistas. Nesse período, foram 32.716 óbitos por acidente de trânsito, dos quais 36,7% se referem a motociclistas.
Para tentar diminuir os prejuízos dos trabalhadores e até mesmo como uma forma de compensação, desde 2019, o iFood oferece gratuitamente seguro de acidentes pessoais e de vida para entregadores ativos na plataforma, cobrindo acidentes ocorridos durante a rota de entrega e no retorno do entregador para a sua casa. Além disso, desde 2021, quem faz entregas pelo iFood conta também com seguro em caso de lesão temporária.
As coberturas dos seguros oferecidas pelo iFood dizem respeito às despesas médicas, hospitalares e odontológicas provenientes do acidente (até R$ 15.000,00), via reembolso ou rede credenciada; lesão temporária (até R$ 1.500,00 de indenização com o afastamento igual ou superior a sete dias) ou invalidez permanente (até R$ 100.000,00), seguro de vida em caso de morte acidental (até R$ 100.000,00) e auxílio funeral (R$ 5.000,00), conforme dados obtidos no relatório de sustentabilidade de 2022/2023.
Embora a iniciativa seja um avançado passo para o enfretamento de questões relacionadas ao Social da agenda ESG, outros temas relacionados aos entregadores parceiros da plataforma precisam ser observados, tais como, a saúde, a segurança do trabalho, a precarização das condições de trabalho e a remuneração dos entregadores.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
No presente trabalho, foi realizado um estudo de caso sobre a aplicação das práticas ESG na maior empresa de delivery do Brasil (Tecnoblog, 2022), que se mostrou revolucionária na aplicação de práticas ambientais dentro de um curto espaço de tempo, tornando-se uma referência a ser seguida pelas demais empresas.
No tocante à sustentabilidade ambiental, pudemos observar a implementação de medidas que visam reduzir o uso de plástico em suas embalagens, incentivando os restaurantes parceiros a adotarem opções mais sustentáveis, como embalagens biodegradáveis ou reutilizáveis, além da adoção de programas de reciclagem por meio de ponto de entrega voluntária de resíduos (iFood, 2021) e descarte adequado de resíduos decorrente dos impactos causados por sua operação e pelas atividades dos restaurantes parceiros.
A adoção de logística inteligente foi outro ponto de destaque, pois a empresa mostrou investimento e esforços em tecnologia de logística inteligente para otimizar as rotas de entrega, reduzindo, consequentemente, o consumo de combustível e as emissões de carbono.
No tocante à responsabilidade social, dentre as inúmeras causas, merece destaque o programa de inclusão e de diversidade, promovendo um ambiente de trabalho inclusivo para os seus colaboradores, independentemente de gênero, raça, orientação sexual, custeando auxílio psicológico, médico e até arcando com custas cirúrgicas para cirurgia de redesignação de sexo. Dentro do social, vale destacar ainda o apoio à comunidade por meio de campanhas de doação realizadas pelos consumidores dentro do aplicativo e campanhas de combate à fome.
Ainda cabe mencionar o papel de destaque da governança corporativa que atua de forma transparente e com ética em suas operações, protegendo os dados existentes em sua plataforma, divulgando informações relevantes sobre suas políticas, práticas, desempenho financeiro aos stakeholders por meio de relatórios divulgados em sua plataforma.
É importante mencionar ainda a existência de um conselho de administração diversificado através do qual o iFood busca garantir a diversidade em seu conselho de administração, incluindo membros com diferentes origens, idades, gêneros, experiências e habilidades para garantir uma tomada de decisão mais abrangente e representativa.
O modelo construído pela empresa em questão representa uma tentativa bem-sucedida de integração de interesses ambientais com as necessidades e exigências do público consumidor, o que acaba se revertendo em uma espécie muito favorável de marketing e de visibilidade positiva para a empresa, razões pelas quais adotamos o iFood como objeto de análise no presente artigo.
Um exemplo de marketing que demonstra a aplicação das práticas ESG é a campanha publicitária do iFood de 2021: “Um novo significado: Viver é”, em que o slogan adotado foi “Viver é uma entrega”, no qual foram demonstradas ações adotadas pela plataforma durante a pandemia como, por exemplo, a doação de alimentos a famílias carentes e o uso de embalagens ecológicas, além das entregas, que foram realizadas através de bicicletas, por entregadores devidamente paramentados com capacete, usando máscaras de proteção facial e roupa de proteção solar com a logomarca da empresa (Youtube, 2021).
A preocupação com valores contidos na agenda ESG foram além das perspectivas financeiras e fizeram com que a foodtech realizasse a sua virada de chave, mais especificamente, durante o período pandêmico.
A agenda ESG faz com que as empresas reflitam sobre o seu papel na sociedade, sendo essa pauta o presente e o futuro delas.
No que tange à pauta ambiental, o iFood adotou práticas sustentáveis como o uso de embalagens recicláveis, o uso de recursos não poluentes, pois, durante o ano de 2023, um em cada cinco pedidos foram entregues pelo iFood através de bicicletas tradicionais ou bicicletas e motos elétricas, reduzindo as emissões de gases de efeito estufa, processo por meio do qual a empresa busca compensar as emissões de gases lançados na atmosfera decorrentes das entregas efetuadas de modo tradicional, substituindo-as por entregas neutras, com a aquisição de créditos de carbono _ que é um mecanismo que funciona como um sistema de balanço, no qual as emissões de gases são contrabalançadas por ações que as neutralizam ou reduzem. O fundamento desse sistema reside no princípio de que cada tonelada de emissão de gases de efeito estufa pode ser “compensada” por uma atividade equivalente que remova ou evite a mesma quantidade de emissões em outro lugar. Essa abordagem oferece uma maneira flexível para as organizações e governos cumprirem suas metas ambientais, enquanto promovem práticas sustentáveis, (SALES, 2023b) entre outros casos.
Para chegar a uma lista de objetivos ambientais dentro da agenda ESG foi necessário engajar os stakeholders, ouvir os consumidores de forma estratégica, entender quais eram os temas relevantes para eles, considerando os impactos na empresa e quais eram os impactos que essas medidas poderiam gerar para a sua reputação.
O bom posicionamento do iFood frente às questões ambientais impactaram suas campanhas de marketing, promovendo, assim, as iniciativas sustentáveis da empresa. A título de exemplo, pode ser mencionada a campanha iFood Regenera, que é um conjunto de planos ambientais da plataforma no qual são apoiadas algumas metas de sustentabilidade e a empresa, por sua vez, investe em inovação, pesquisa e desenvolvimento para se tornar referência em operação de delivery sem impacto ambiental. Tal prática fortaleceu o engajamento dos clientes, que se sentiram parte das ações sustentáveis da empresa. Essa iniciativa não apenas demonstrou o compromisso do iFood com a sustentabilidade, mas também a sua divulgação se tornou um diferencial de marketing, atraindo clientes preocupados com o meio ambiente.
Observar os desafios enfrentados e as lições aprendidas pelo iFood resulta em um estudo de caso rico em informações para acadêmicos e profissionais.
O presente artigo mostrou como a tecnologia está sendo empregada pelo iFood para impulsionar práticas sustentáveis em diferentes setores, investigando como a empresa está integrando efetivamente critérios ESG em suas estratégias tecnológicas, avaliando os impactos financeiros, ambientais, sociais e de governança.
A pesquisa demonstrou, portanto, como o iFood pode ser considerado um caso de sucesso mediante a análise de relatórios internos, que mostram como a empresa conseguiu, com êxito, implementar a agenda ESG. Analisando os relatórios divulgados, observou-se que a progressão das medidas adotadas pela empresa estendeu-se ao longo do tempo, desde a sua criação até os dias atuais, comprovando que o investimento de tempo e de esforços na implementação das práticas ESG só são possíveis numa perspectiva de longo prazo.
O auge da adoção das práticas contidas na agenda ESG na foodtech iFood foi obtido durante pandemia, quando foram realizadas doações a ONGs e, desde então, houve a ampliação dos recursos, permitindo direcionar os esforços em ações que fazem sentido para a organização e o seu entorno, melhorando o retorno de investimentos e aumentando a credibilidade e o valor de mercado da empresa.
A apresentação de relatórios pelo iFood aumenta a sua credibilidade frente ao mercado, já que demonstra um compromisso claro com comportamentos mais sustentáveis e transparentes. Embora o iFood seja uma empresa recente, a adoção das práticas contidas na agenda ESG revela-se promissora.
Por fim, embora haja bons resultados dentro da trajetória da empresa, é necessário ressaltar que eles somente foram obtidos por meio de esforços constantes e ininterruptos, o que serve de exemplo para encorajar as empresas a agirem de forma mais sustentável, sobretudo no contexto contemporâneo, tendo em vista as rápidas mudanças climáticas e os danos ambientais, além do aperfeiçoamento das métricas para avaliação sólida da empresa no mercado em função de suas boas práticas e procedimentos.
Diante de todo o exposto, em que pese a atuação exemplar do iFood em relação às práticas ESG, é importante destacar, como crítica à atuação da empresa e futuros alvos, para novas pesquisas, os pontos fracos encontrados e apontados por meio da análise empreendida pela presente pesquisa, dos relatórios anuais de sustentabilidade da empresa, como as questões referentes aos valores e taxas pagos por parceiros e colaboradores, muitas vezes injustos, incluindo-se, aqui, a remuneração dos entregadores que, segundo as recentes pesquisas mencionadas continua a ser insuficiente e insatisfatória.
Como pontos positivos, sugere-se que outras empresas possam se inspirar nas práticas positivas do iFood, também apontadas nesta pesquisa, para criarem suas próprias formas de integrar os valores e práticas da agenda ESG em seu cotidiano administrativo.
REFERÊNCIAS
ABRASEL. Comida no iFood fica mais cara do que no restaurante diz ABRASEL. Disponível em: https://sp.abrasel.com.br/noticias/noticias/comida-no-iFood-fica-17-5-mais-cara-do-que-no-restaurante-diz-abrasel/. Data da publicação:14 de out. de 2022. Acesso em: 3 abr. 2024.
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A capa foi editada no software Power Point da empresa Microsoft.
As imagens de capa foram desenvolvidas por IA no site https://lexica.art/.
O conteúdo do artigo e sua revisão foram desenvolvidos por uma pessoa humana.