O homem-produto
No filme “idiocracia”, podemos acompanhar uma sociedade que está afundada em uma super crise ambiental, ética e cognitiva, que enfrentam problemas que poderiam ser resolvidos facilmente, no entanto a população não tem capacidade cognitiva para tal; A sociedade contemporânea, marcada pelas relações líquidas e ultra rápidas, escancara cada vez mais que o lucro sempre esteve acima de tudo, até mesmo da ética. Com o mundo cada vez mais conectado e tendo em vista a ascensão das tecnologias de informação e comunicação(TIC’s), nota-se o uso, cada vez mais excessivo, dos dados para localizar consumidores em potencial, ou até mesmo para a criação de novos produtos; os dados são parte fundamental para a manutenção do capitalismo e da indústria como um todo e vale ressaltar que se um indivíduo não paga por uma uma mercadoria, muito provavelmente ele é o próprio produto.
Você certamente ja passou por algum momento onde teve que tomar algum tipo de decisão, ou melhor ja desejou tanto comprar um produto que sequer era necessário, e depois de algum tempo se arrependeu ou se sentiu frustrado, não se preocupe pois você não está sozinho.
A senhorita Bira, estudante de filosofia da UFABC, defende em seu vídeo, “a ilusão da escolha”, que gosto é uma construção social e comercial, que por trás de cada escolha que fazemos no dia a dia existe uma indústria cultural por trás, essa indústria decide o que você vai vestir, comer, onde vai morar e onde será enterrado quando morrer.
Tal argumento se embasa na teoria da modernidade líquida teorisada pelo sociólogo e filósofo, Zygmunt Bauman, em seu livro “liquid modernity”, Bauman explica um pouco do processo de mudança da sociedade sólida para uma sociedade líquida, líquida pois assim como a água é fluída e muda constantemente, essa liquidez se dá em todos os aspectos da vida pós-moderna.
por fim, no livro, o autor levanta três teorias de consumo:
A primeira teoria trata da expansão da produção de bens e de locais de consumo e em como esse acesso exarcebado pode afetar tanto positivamento como negativamente uma sociedade, no ínicio do filme existe uma preocupação com a tendência da perca de QI da população o que de fato acontece e leva a um futuro desastroso e diferente do que estamos acostumados a imaginar, saindo do campo da sétima arte, Conseguimos, facilmente, encontrar pontos em comum entre o filme e a sociedade pós-moderna na qual estamos inseridos, por exemplo, nota-se o uso cada vez mais frequente de ferramentas como o chat gpt, para resolver tarefas que, anos atrás, poderiam ser feitas de maneira ôrganica, de maneira a exercitar o cérebro, outra problemática também se concentra no uso, desenfreado, de redes sociais, estudos indicam que o uso excessivo das redes pode ter consequências significativas, incluindo isolamento social, falta de sono adequado, queda no desempenho acadêmico e profissional, além de problemas de saúde mental como ansiedade e depressão, logo, podemos concluir que o mau uso dessas ferramentas e produtos somado a esse comportamento pode fazer com que cenários como o da trama tornem-se reais.
A segunda teoria lança um olhar mais social e analisa como os consumidores utilizam produtos e bens para estabelecer barreiras sociais, nesse viés, o autor defende que os produtos perdem seu uso primordial e passam a exercer um “status”, agora, esse produto apenas existe para ser exibido perdendo sua função, voltando para o video da senhorita bira, ela explica que os produtos que consumimos foram pensados, no video ela explica um pouco da busca do pertencimento, nós fazemos parte de um grupo e como o que usamos representa a qual grupo ou classe pertencemos.
Roupa imprime identidade. senhorita bira
A terceira trata dos sonhos e anseios que carregamos no imaginário cultural, essa teoria também se baseia na modernidade líquida e analisa como os sonhos se tornaram produtos, nessa lógica apenas quem possui recursos realizará seus sonhos, mas, será que realmente possuímos esses sonhos? ou apenas existe uma indústria por trás?
Em suma, tanto o filme quanto o livro, escancaram a problemática da perca de capacidade cognitiva e como estamos nos tornando consumidores ao invés de cidadãos, No contexto atual devemos ter olhos atentos para que cenários como o de idiocracia não se torne realidade.