Article image
CATIUSCI SCHEFFER
CATIUSCI SCHEFFER12/07/2023 17:23
Compartilhe

Introdução às APIs: Conceitos, Implementação e Boas Práticas

  • #API Rest


Nos últimos anos, as APIs (Interface de Programação de Aplicações) têm se tornado peças fundamentais no desenvolvimento de software, permitindo a comunicação e integração entre diferentes sistemas. Neste artigo, exploraremos os conceitos básicos das APIs, abordando sua definição, funcionamento, criação e consumo. Também discutiremos tópicos relevantes, como autenticação, autorização, versionamento, performance, escalabilidade e segurança das APIs. Além disso, veremos como documentar adequadamente uma API, garantindo a sua compreensão e utilização por outros desenvolvedores. 

 

O que é uma API

Uma API (Interface de Programação de Aplicações) é um conjunto de regras e protocolos que permite a comunicação entre diferentes softwares. Ela define os métodos de interação e a estrutura dos dados que podem ser trocados entre as aplicações. 

Segundo Roy T. Fielding, um dos principais autores do protocolo HTTP e um dos criadores do REST (Representational State Transfer), uma API é: 


"Um conjunto de interfaces e protocolos que permite a comunicação entre diferentes componentes de software. Essas interfaces e protocolos especificam como os componentes devem interagir, permitindo que desenvolvedores utilizem recursos e funcionalidades de um software sem precisar conhecer todos os detalhes internos de sua implementação.


Essa definição enfatiza a importância das APIs na promoção da interoperabilidade entre sistemas e na simplificação do desenvolvimento de software, permitindo que os desenvolvedores utilizem os recursos de outros sistemas de forma eficiente e padronizada. 

 

Onde usamos as API’s 

Embora seja amplamente utilizada, muitas vezes não percebemos seu uso direto em algumas situações. A seguir, vou citar alguns exemplos bem conhecidos nos quais APIs estão presentes, mesmo que não sejam óbvias para os usuários finais: 


  • Redes sociais; 
  • Mapas e localização; 
  • Pagamentos online; 
  • Previsão do tempo; 
  • Integração de aplicativos empresariais; 


Esses exemplos ilustram como as APIs desempenham um papel fundamental em diversas áreas, tornando possível a conexão e o intercâmbio de dados entre diferentes plataformas, serviços e aplicativos, criando experiências integradas e ampliando a funcionalidade dos sistemas. 


O que são endpoints e rotas de uma API:  

Os endpoints e as rotas são elementos fundamentais no desenvolvimento de uma API. Eles ajudam a definir e estruturar as operações disponíveis na API e fornecem pontos de acesso para interagir com os recursos ou serviços oferecidos pela aplicação. 

Vamos entender cada um deles: 


Endpoints: 

Os endpoints são URLs específicas dentro de uma API que representam recursos ou ações disponíveis. Cada endpoint é responsável por uma operação específica. Por exempplo em uma API de pagamentos online, poderíamos ter endpoints como: 


  • /payments: Representa o recurso de pagamentos, onde é possível realizar ações relacionadas a pagamentos. 
  • /payments/create: Representa o endpoint para criar um novo pagamento. 
  • /payments/{id}: Representa um pagamento específico, identificado pelo ID do pagamento. 

Esses endpoints são acessados por meio de requisições HTTP, como GET, POST, PUT ou DELETE, para realizar as operações desejadas. 

Rotas: 

As rotas são responsáveis por mapear os endpoints para suas respectivas funções ou métodos no código da API.  

Ainda usando o exemplo de uma API de pagamentos online, as rotas definiriam qual função ou método será executado quando um determinado endpoint for acessado conforme exemplo abaixo: 


  • Rota /payments/create mapeada para a função create_payment(): Essa função seria responsável por criar um novo pagamento no sistema e retornar a resposta apropriada. 
  • Rota /payments/{id} mapeada para a função get_payment_by_id(id): Essa função seria responsável por buscar as informações de um pagamento específico com base no ID fornecido e retornar os detalhes correspondentes. 

No contexto de uma API de pagamentos online, os endpoints e as rotas trabalhariam em conjunto para permitir operações como criação de pagamentos, obtenção de informações de pagamentos existentes, atualização de status de pagamento, entre outras funcionalidades relacionadas ao processamento de pagamentos online. 

Como consumir uma API 

Consumir uma API de maneira geral envolve o uso de requisições HTTP para acessar os endpoints da API e receber as respostas correspondentes.  

Um exemplo generalista do processo para consumir uma API: 


  • Escolha a biblioteca ou framework adequado; 
  • Conhecer a documentação da API; 
  • Determinar o endpoint desejado; 
  • Construir a requisição; 
  • Enviar a requisição (GET, POST, PUT, DELETE); 
  • Manipulação da resposta;  
  • Tratar erros e exceções; 

 

Cada API pode ter peculiaridades específicas em relação à autenticação e formato dos dados. Portanto, é importante consultar a documentação e seguir as diretrizes fornecidas pela API a ser consumida. 


API RESTful 


Uma API RESTful (Representational State Transfer) é um estilo de arquitetura de software que define um conjunto de princípios e convenções para o desenvolvimento de APIs. Essas APIs são projetadas para serem simples, escaláveis e interoperáveis, permitindo a comunicação eficiente entre diferentes sistemas. 

A definição mais conhecida e amplamente utilizada de API RESTful foi apresentada por Roy T. Fielding em sua tese de doutorado em 2000, onde ele descreveu os princípios e conceitos por trás da arquitetura REST.  

De acordo com Fielding, uma API RESTful deve aderir aos seguintes princípios: 


  • Baseada em recursos (Resource-based): Uma API RESTful é orientada a recursos, onde cada recurso é identificado por um URI (Uniform Resource Identifier). 
  • Utilização de métodos HTTP: A interação com os recursos é feita por meio dos métodos HTTP padrão, como GET, POST, PUT e DELETE.  
  • Stateless: Cada requisição feita para a API deve conter todas as informações necessárias para que o servidor entenda e processe a requisição. O servidor não deve armazenar informações de estado entre as requisições. 
  • Respostas com representação do recurso: As respostas da API devem conter uma representação do recurso solicitado, geralmente em um formato como JSON ou XML. 
  • HATEOAS (Hypermedia as the Engine of Application State): A API deve fornecer links ou referências para recursos relacionados, permitindo que o cliente descubra e navegue pela API de forma autônoma, sem a necessidade de conhecimento prévio das URLs dos recursos. 

 

A diferença entre uma API RESTful e uma API convencional está principalmente na aderência aos princípios e convenções do REST. As APIs RESTful seguem uma abordagem mais padronizada, utilizando métodos HTTP, URIs e recursos para permitir uma comunicação consistente, escalável e fácil de entender entre os sistemas. Isso resulta em APIs mais flexíveis, independentes de plataforma e altamente interoperáveis, permitindo a integração de diferentes sistemas de forma eficiente e simplificada. 


Autenticações e Autorizações para utilização de API 


As autenticações e autorizações em uma API são mecanismos fundamentais para garantir a segurança e o controle de acesso aos recursos e funcionalidades oferecidos pela API. Existem várias abordagens comumente utilizadas para realizar essas tarefas, conforme demonstrado abaixo: 


  • Autenticação baseada em tokens (Token-based Authentication): Nessa abordagem, um token de acesso é gerado pelo servidor de autenticação e enviado pelo cliente em cada requisição para autenticação. 
  • Autenticação baseada em sessões (Session-based Authentication): Essa abordagem utiliza cookies e sessões para autenticar os usuários. Quando um usuário faz login, um identificador de sessão é criado e armazenado no lado do cliente (normalmente em um cookie). O servidor mantém uma tabela de sessões associadas a usuários autenticados. Em cada requisição subsequente, o servidor verifica o identificador de sessão enviado pelo cliente para autenticar e identificar o usuário. 
  • Autenticação por meio de chaves de API (API Key Authentication): Nesse modelo, o cliente inclui uma chave de API específica em cada requisição para autenticação. 

 

Além da autenticação, também é necessário considerar a autorização para controlar o acesso aos recursos da API. A autorização geralmente envolve a definição de regras e permissões para determinar quais usuários ou clientes têm acesso a quais recursos ou funcionalidades. Isso pode ser feito por meio de: 

  • Controle de acesso baseado em papéis (Role-based Access Control): Atribuição de funções ou papéis a usuários ou clientes e definir as permissões associadas a esses papéis. 
  • Controle de acesso baseado em políticas (Policy-based Access Control): Definição de políticas de acesso que especificam quais ações ou recursos um usuário ou cliente pode acessar com base em condições pré-determinadas. 

 

As estratégias de autenticação e autorização podem variar dependendo das necessidades e requisitos específicos da API e do contexto em que está sendo usada.

 

Versionamento de API 


A principal finalidade do versionamento de API é permitir que desenvolvedores e clientes da API possam trabalhar com diferentes versões da mesma de forma controlada e escalonável. O versionamento de API desempenha um papel crucial na evolução das APIs ao longo do tempo, permitindo a introdução de alterações e melhorias graduais sem causar impacto negativo nas implementações existentes, as principais finalidades do versionamento de API são: 

 

  • Evitar quebra de compatibilidade; 
  • Oferecer suporte à evolução da API; 
  • Facilitar a coexistência de versões; 
  • Gerenciar a estabilidade e o suporte; 
  • Permitir a adoção de melhorias e correções; 

 

Em resumo, o versionamento de API permite a execução das alterações na API de forma controlada e escalonável, evitando quebras de compatibilidade e garantindo que as implementações existentes possam continuar funcionando conforme o esperado. Ele oferece flexibilidade para a evolução da API ao longo do tempo, permitindo que novas funcionalidades sejam introduzidas e melhorias sejam adotadas sem impactar negativamente os sistemas que dependem da API. 


Performance e Escalabilidade de API 


Performance e escalabilidade são conceitos relacionados, mas distintos, no contexto de APIs. 

A performance de uma API se refere à velocidade e eficiência com que ela processa as solicitações dos clientes e retorna as respostas. Envolve a otimização do tempo de resposta, a minimização da latência e o uso eficiente dos recursos do sistema. Uma definição geral pode ser encontrada no livro "High Performance Web Sites" de Steve Souders, onde ele define performance como "o tempo que leva para uma página da web ser exibida em um navegador". 

Por outro lado, a escalabilidade de uma API diz respeito à capacidade da API de lidar com um aumento de carga, ou seja, a capacidade de dimensionar horizontalmente para suportar um número crescente de solicitações simultâneas. Em resumo, a performance se concentra na eficiência e velocidade de uma única solicitação da API, enquanto a escalabilidade lida com a capacidade de suportar um grande volume de solicitações ao longo do tempo e à medida que o número de usuários e a carga aumentam. Ambos são aspectos cruciais para garantir uma experiência satisfatória aos usuários e a capacidade de crescimento de uma API. 


JSON 


JSON (JavaScript Object Notation) é um formato de dados leve e de fácil leitura que é amplamente utilizado para troca de dados entre sistemas. Ele é baseado na sintaxe de objetos em JavaScript, mas é independente de linguagem e amplamente suportado por diferentes plataformas e linguagens de programação. 

JSON é amplamente utilizado em APIs para transmitir e estruturar dados de forma eficiente. Ele usa uma combinação de pares de chave-valor para representar os dados de forma hierárquica e estruturada. Os dados em JSON são representados usando objetos, arrays, valores literais (como strings, números, booleanos e null) e estruturas aninhadas. 


Documentação da API 


A documentação de uma API desempenha um papel crucial ao fornecer informações claras e abrangentes sobre como usar e interagir com a API. Embora não exista uma regra rígida sobre como documentar uma API, existem diretrizes e práticas recomendadas amplamente aceitas, conforme segue: 


  • Descrição da API: Forneçer uma descrição geral da API, incluindo seu propósito, principais recursos e casos de uso. 
  • Endpoints e Rotas: Documentar todos os endpoints e rotas disponíveis na API, juntamente com os métodos HTTP correspondentes. 
  • Parâmetros e Formatos de Dados: Explicação sobre os parâmetros esperados em cada solicitação, incluindo o formato de dados aceito (como JSON, XML, etc.). 
  • Respostas e Códigos de Status: Descrever as possíveis respostas e códigos de status que a API pode retornar. Explicar o significado de cada código de status e como interpretar as respostas para manipulação adequada. 
  • Autenticação e Autorização: Documentar os métodos de autenticação e autorização necessários para acessar a API. 
  • Exemplos de Uso: Forneçer exemplos práticos de como usar a API em diferentes cenários. 
  • Erros e Mensagens de Erro: Documentar os possíveis erros e mensagens de erro que a API pode retornar. 
  • Versionamento: Se a API tiver versões diferentes, explicar como versionar a API e como os clientes podem especificar a versão desejada. 


A documentação deve ser clara, atualizada e fácil de entender. 


O uso de API com JAVA e Spring Boot  


Spring Boot 

Spring Boot é um framework de desenvolvimento de aplicativos Java que tem como objetivo simplificar e acelerar o processo de criação de aplicativos. Ele fornece uma abordagem de configuração opinativa, que permite aos desenvolvedores criar rapidamente aplicativos prontos para produção, com configuração mínima. 

As Principais vantagens do Spring Boot: 


  • Facilidade de configuração: Ele possui uma configuração padrão inteligente, que permite que os desenvolvedores iniciem um projeto com um mínimo de configuração, reduzindo a necessidade de escrever código boilerplate. 
  • Autoconfiguração: Com base nas dependências presentes no classpath do projeto, o Spring Boot é capaz de configurar automaticamente muitos aspectos do aplicativo, como banco de dados, segurança e integrações com outros frameworks e bibliotecas. 
  • Pronto para produção: Ele oferece suporte integrado para monitoramento, métricas, logging, testes e muito mais, permitindo que os desenvolvedores se concentrem no desenvolvimento do aplicativo em vez de se preocuparem com tarefas de configuração e infraestrutura. 
  • Integração com o ecossistema Spring: O Spring Boot é baseado no ecossistema Spring, o que significa que ele se integra perfeitamente com outros projetos do Spring, como o Spring MVC, Spring Data, Spring Security e muitos outros. 


Segurança no Spring Boot 

O Spring Security fornece uma camada de segurança abrangente, permitindo que os desenvolvedores protejam seus aplicativos contra ameaças e gerenciem a autenticação e autorização dos usuários. 

A implementação da segurança no Spring Boot envolve os seguintes conceitos e componentes principais: 


  • Configuração de segurança: A configuração de segurança é realizada por meio de uma classe de configuração que estende a classe WebSecurityConfigurerAdapter. Nessa classe, você pode definir políticas de segurança, gerenciar autenticação, autorização, entre outros aspectos relacionados à segurança. 
  • Autenticação: A autenticação é o processo de verificar a identidade do usuário. No Spring Security, você pode configurar diferentes mecanismos de autenticação, como autenticação baseada em formulário, autenticação com tokens, autenticação baseada em LDAP, autenticação com provedores externos, entre outros. 
  • Autorização: A autorização controla o acesso do usuário a recursos específicos no aplicativo. Você pode configurar quais usuários têm acesso a determinadas URLs, métodos ou recursos específicos do aplicativo. O Spring Security também suporta anotações para controle de autorização em nível de método ou controlador. 
  • Proteção contra-ataques: O Spring Security fornece proteção contra vários tipos de ataques comuns, como ataques de CSRF (Cross-Site Request Forgery), ataques de XSS (Cross-Site Scripting) e injeção de SQL. 
  • Integração com provedores de autenticação: O Spring Security é altamente modular e oferece integração com vários provedores de autenticação, como bancos de dados, provedores de autenticação externos (OAuth, OpenID), SSO (Single Sign-On) e LDAP (Lightweight Directory Access Protocol). Isso permite que você conecte seu aplicativo a diferentes sistemas de autenticação, dependendo dos requisitos do projeto. 


Spring MVC 


O objetivo do Spring MVC (Model-View-Controller) é separar as preocupações relacionadas à lógica de negócios, à apresentação e ao fluxo de controle de um aplicativo web, promovendo a modularidade, o reuso de código e uma melhor organização do projeto, seus conceitos principais são: 


  • Model: O modelo representa os dados e a lógica de negócios do aplicativo. Ele encapsula os dados que serão exibidos na interface do usuário e contém a lógica necessária para processar e manipular esses dados. 
  • View: A visualização é responsável por renderizar os dados do modelo e apresentá-los ao usuário final. No Spring MVC, as visualizações são geralmente implementadas por meio de templates (como JSP, Thymeleaf, Freemarker) ou por meio de recursos especializados, como serializadores de JSON. 
  • Controller: O controlador é responsável por receber as solicitações do usuário, coordenar a lógica de negócios, interagir com o modelo e selecionar a visualização apropriada para renderizar os dados.  

 

Em resumo, o Spring MVC é um framework do Spring que segue o padrão MVC para desenvolvimento de aplicativos web. Ele separa as preocupações relacionadas à lógica de negócios, à apresentação e ao fluxo de controle do aplicativo. O Spring MVC oferece suporte a uma arquitetura modular, promovendo a reutilização de código e uma melhor organização do projeto. Com suas configurações adequadas e a utilização dos conceitos do modelo, visualização e controlador, é possível criar aplicativos web flexíveis e escaláveis. 


Para finalizar devemos ter em mente que para criar APIs de qualidade, é valioso considerar a abordagem RESTful e seus princípios. Isso proporcionará benefícios significativos em termos de padronização, escalabilidade e interoperabilidade, permitindo que sua API se alinhe às melhores práticas da indústria. 

Compartilhe
Comentários (0)