História de um programador com TDAH
Descobri que tenho TDAH aos 19 anos.
Desde criança sempre tive uma grande dificuldade em aprender e manter o foco. Dificilmente conseguia realizar uma tarefa até o final. Focar em uma simples tarefa exigia um esforço descomunal da minha parte em comparação aos demais colegas, e a frustração por não conseguir completá-las me incomodavamm todo os dias. Por ser assim, acabei aceitando ser o “cara lento” da vida.
Nós somos seres muito inteligentes e podemos nos adaptar, e foi isso que fiz, me adaptei à falta de atenção e ao processo lento de aprendizagem. Depois de uma vida inteira de inadequação social, infância tumultuada, conflitos familiares, notas baixas, reuniões na diretoria da escola, faculdades abandonadas, empregos perdidos, relacionamentos rompidos, enfim, a surpresa: descobri que tenho TDAH.
Primeiro contato com o mundo digital
Aos 12 anos de idade tive meu primeiro contato com um computador. Aquele novo universo me cativou de todas as formas, lembro que fiquei enchendo o saco da minha mãe pra comprar um, porém na época ela não tinha condições , então tive que ficar revezando entre casa de amigos e lan house.
Nessa de explorar a minha paixão só foi aumentando , até que um belo dia minha mãe me colocou em um curso tecnico de informatica, e lá conheci um pouco de hardware e programação, mal eu sabia os desafios que me esperavam... Com muito esforço consegui concluir o curso tecnico e dali, sai fazendo alguns bicos realizando reparos e formatações em alguns micros.
Porém, meu foco sempre foi a programação. Pra quem tem TDAH na programação a dificuldade é aumentada pois trabalhamos com lógica. Eu comecei a desenvolver com Python e achei uma linguagem relativamente fácil, e dali subi pra PHP, mas chegou um momento que meu cérebro não desenvolvia mais nada e isso me frustrava.
Frustração
O tempo passou, e aos 19 anos já na faculdade de Analise de Desenvolvimento de sistema, me vi perdido nas matérias e na dificuldade em conseguir oportunidades. Devido ao problema de aprendizado e foco, isso só foi me desmotivando cada vez mais, até desistir da faculdade e trancar, nesse cenário me vi perdido profissionalmente, por que aquilo que eu mais amava eu não conseguia desempenhar bem.
Sem saber muito bem o que fazer, fui aproveitando as oportunidades que apareciam. Fui de assistente de compras, vendedor, e algumas tentativas de "empreender" fracassadas. Pois é, eu fazia o que aparecia na esperança de encontrar algo que eu realmente gostava.
2 anos depois...
Depois de dois anos, entre idas e vindas de busca profissional e fracassos, consegui parar em uma empresa de logistica que fica na minha cidade. Comecei como operador de rastreamento trabalhando de madrugada. Como se tratava de uma empresa "nova" na época, comecei a notar a falta de algumas ferramentas pra poder lidar com organização de dados.
Na época, a empresa só usava excel e o google sheets para controle de veiculos e de viagens. Eu vendo aquilo vi uma oportunidade, foi ai que voltei a minhas origens de programador, e dei inicio na construção de uma pequena plataforma de controle de viagens. Durante meu tempo vago na madrugada eu trabalhava no desenvolvimento dela. Até que chegou no ouvido do meu gestor sobre a ferramenta que eu estava desenvolvendo, e ele me chamou pra apresentar pra ele, diretor e a equipe, total de 11 pessoas na sala.
Eu nunca fui bom em falar em publico, porém nesse dia tive que me virar. A apresentação foi legal, gostaram do projeto e elogiaram, menos o Diretor, cochichou com meu gestor depois saiu da sala sem dizer nada ... 2 dias se passaram e fui chamado na sala dele.
Lá ele me elogiou e disse que apartir daquele momento eu era um Analista de Sistema, que ficaria a frente dos projetos da empresa e que me ajudaria dar continuidade com os meus estudos. Aquele momento foi único, significava muito pra mim, diante de tudo que passei. É muito legal ver o quanto eu era perdido, profissionalmente, e como estou agora... fazendo o que amo realmente!
Por que escolhi ser programador?
A vida como programador me permite explorar minha criatividade, e construir softwares que ajudem as pessoas e resolvam problemas do dia a dia, isso é o que me motiva.
Conclusão
Não desista só porque está difícil, as melhores coisas levam tempo. Mantenha o foco, se permita conhecer coisas novas, se explore. Nosso maior inimigo somos nós mesmos!