Estudar programação está difícil pra você? Então está tudo bem.
Aqui eu vou usar uma linguagem bem pessoal: vou falar diretamente com você.
Sim, você! Você que está há alguns anos aprendendo programação "sozinho(a)", seguindo tutoriais, se inscrevendo em diversos cursos, trocando de linguagem toda hora, odiando Java e amando Python, sonhando com empregos bem remunerados, sofrendo com a Síndrome do Impostor e achando que nunca vai aprender a programar.
Contarei um pequeno relato de vida. Eu sou professor de história e leciono há mais de 5 anos no ensino público de São Paulo - SP. E não se engane, lecionar foi um sonho meu porque tive uma professora que me marcou e eu também sonhei em transformar a vida de meus futuros aluninhos e aluninhas. Um resumo: a realidade é cruel. As gerações mudam e os estudantes não são os mesmo da minha época e nem da sua, a experiência foi - e continua sendo - traumática.
Sempre tive uma relação especial com a tecnologia. Meu pai sempre foi entusiasta, teve uma porrada de computadores em casa e desde cedo tive contato com Mac OS, Windows e Linux. Com 9 anos já sabia o que era tudo aquilo. Acontece que isso não foi o suficiente para eu querer ser programador, TI e afins. Eu queria deixar um legado, queria sentir que fazia diferença.
Depois do meu segundo ano traumático na escola, no meio de 2019, decidi aprender a programar porque eu queria criar um jogo, um RPG. As pesquisas no Google me levaram a vários artigos e caminhos até eu chegar em um curso de JavaScript no Youtube. E é aqui que, talvez, você e eu vamos compartilhar pensamentos iguais.
O primeiro 'Hello World' em JS
A primeira vez que imprimi na tela do meu pc o Olá, Mundo é um sentimento indescritível. E se você, assim como eu, gosta de tecnologia, também entende isso. Hoje, depois de mais de 4 anos do meu primeiro "Olá, mundo", sugiro que você guarde esse sentimento de felicidade, ele é muito importante para nós.
Tudo começou a complicar
Dizem que escrevemos o "Olá, Mundo" para espantarmos a maldição. Maldição que não te permitirá aprender a linguagem. Ahãam... Um dos maiores desafios de aprender em casa, sozinho e seguindo apenas tutoriais na internet é que
- criamos vícios que ninguém vai corrigir;
- não temos colegas de sala para comparar nossa aprendizagem;
- sempre vai ter uma crianças de 10 anos que sabe C e te humilhará.
E para piorar, você não entende porque seu "While()" destrói seu programa ou porque você não consegue sozinho criar um sistema de hotel usando Array ou List... aliás, qual é a diferença dos dois mesmo??
Eu desisti
Desisti no JavaScript, HTML e CSS. No começo é normal você e eu focarmos todos nossos esforços em besteiras, como centralizar uma div no meio do navegador. A questão é que meu breve amor com Desenvolvimento Web acabou depois de alguns meses. Eu queria fazer jogos e não ficar sofrendo com Botis... bootstr-... bootrapi... bostrap... é... é... Bootstrap.
Eu fugi da minha primeira linguagem. E arrumei várias desculpas pra isso. "Ela é fracamente tipada", "não da pra fazer jogos", "não é pra mim".
Java
"Vamos lá, eu sou um professor. Professores são movidos à base de café e de monólogos! Espera aí... quem é esse tal de Java?".
Eu tinha encontrado uma linguagem que me trouxe identificação. Eu lembro de jogar em alguns site e aquele site reclamar que meu Java estava desatualizado, então aquele era o caminho para o que eu queria.
OOP | POO
Eu entendia bem de classe... ou era o que eu achava até o Java me mostrar o contrário. Não só Classe, mas Encapsulamento, Polimorfismo, Heranças... eu nem entendia o que era parâmetro ainda ou porque eu tinha que colocar "VOID" na minha função/método. Foi na Programação Orientada a Objetos que senti que aquilo não era pra mim e que eu seria incapaz de aprender qualquer linguagem.
Reviravolta
Eu sai do Java e fiquei pulando de linguagem em linguagem: "qual é a melhor linguagem para aprender", digitava no Google. Comprava cursos que nunca terminava e finalmente desisti de programação em 2020. Não queria mais saber de nada e aceitei que era incapaz. Mas agora cheguei no ponto central de tudo. No ano de 2021 eu estava desempregado por causa da Pandemia do Covid-19 e tinha acabado de alugar uma casinha com minha esposa. Decidi aproveitar que estava ocioso para voltar a programar e foi no início de 2021 que comecei a mexer com o Unity3D - uma engine de jogos que utiliza C# como linguagem.
Um novo amor e um entendimento verdadeiro
Além do Unity3D, eu também comprei um curso de C# e simplesmente me apaixonei pela linguagem. O início do aprendizado foi tranquilo, a POO foi tranquila e tópicos avançados foram mais tranquilos. Eu terminei o curso.
C# é uma linguagem fácil, tranquila e simples de aprender?? NÃO!
Não foi o C-Sharp. Não foi o curso que comprei. Não foram os projetos que eu fiz. Quem mudou foi eu. Como um professor de história eu preciso te lembrar de algo que temos tendência de esquecer: o conhecimento é cumulativo. Todo o tempo que passei estudando outras linguagens (Kotlin, Java, JS, Dart, Python, C++) eu reforçava meu conhecimento em programação. Eu adquiri, inconscientemente, uma maturidade no aprendizado de programação.
Como uma pessoa que nunca programou ao lado de outra pessoa, você pode chamar de "autodidata" - o que eu particularmente não acho que sou -, "apreendi".
O dicionário diz que "Apreender" significa "assimilar mentalmente, abarcar com profundidade; compreender, captar."
Conclusão
Se você acha que não está entendendo nada e que tudo está muito complicado, que nunca entenderá aquilo, eu digo: você está completamente enganado. Você - e cada um de nós - precisa de um tempo para assimilar o que aprendeu, porque aprender é "só adquirir o conhecimento" e isso é relativamente fácil. Agora, apreender exige tempo, paciência que muitas vezes não tinha e não tenho de vez em quando.
Hoje faz 2 anos que estou me dedicando, do meu jeito, a aprender tudo que for possível de C# e Unity3D. Não mudei de área ainda e nem tenho essa perspectiva por enquanto, mas já tive o prazer de criar duas aplicações para a escola que trabalho e facilitar o trabalho de amigos - eu pude, finalmente, impactar a vida de alguém através de um app simples, mal otimizado, verboso, sem desing pattern, mas criado por mim.
Não gosto de usar frases de efeito ou coisas do gênero. Mas como um ex pivete que queria mudar o mundo, ser jogador de futebol e que agora quer desenvolver jogos a aplicativos eu digo: "Não faz mal que seja pouco, o que importa é que nosso avanço de hoje seja maior que o de ontem, que nossos passos de amanhã sejam mais largos que os de hoje" (Daisaku Ikeda, Poema Brasil, Seja monarca do Mundo).
Por menor que seja, você está crescendo a cada linha que escreve, a cada erro que resolve e a cada documentação que lê.