<Direto ao Ponto 28> Visionários da Computação – A Internet e a Web
- #Informática Básica
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Olá, dev!
Este é mais um artigo da série DIRETO AO PONTO, que eu estou escrevendo para a DIO. Ele vai tratar de pessoas relevantes para a área da Computação, desta vez, daquelas que uniram a Internet com os computadores pessoais e criaram a web.
Sumário
1. Introdução
2. Os visionários da Internet
3. Os visionários da Web
4. Considerações finais
5. Referências
1 – Introdução
A série DIRETO AO PONTO enfoca artigos sobre conhecimentos básicos da programação e é voltada, principalmente, para os iniciantes.
Este novo artigo vai tratar de pessoas visionárias e ideias inovadoras que juntaram duas das tecnologias mais marcantes para a Computação, uma rede global e os computadores pessoais, para popularizar de vez a Internet como conhecemos hoje.
A internet e o computador pessoal surgiram na década de 1970, mas seguiram caminhos separados por mais de 10 anos.
Os entusiastas da internet queriam criar comunidades virtuais, enquanto os primeiros adeptos dos computadores pessoais estavam mais interessados em explorar suas próprias máquinas.
A convergência entre elas só ocorreu no final dos anos 1980, quando foi possível pessoas comuns entrarem online, de casa ou do trabalho, por acesso discado.
2 – Os visionários da Internet
A Internet surgiu da Arpanet, uma rede exclusiva, restrita a pesquisadores e acadêmicos, sem acesso à maioria das pessoas comuns.
Em 1981, com a criação da CSNET, as universidades não conectadas à Arpanet se conectaram usando protocolos TCP/IP. A CSNET evoluiu para a NSFNET, mas indivíduos comuns, sem ligação com instituições acadêmicas, continuavam sem acesso.
Depois, estudantes de 2 universidades americanas criaram a Usenet, com servidores hospedados em computadores pessoais e postagens chamadas de fóruns ou grupos de discussão (“newsgroups”).
A Internet já estava criada, mas a Revolução Digital, com a visão de Bush, Licklider e Engelbart de que os computadores poderiam potencializar a criatividade pessoal e a colaboração ainda não tinha começado a se concretizar.
Ray Tomlinson
A Arpanet era uma rede concebida para compartilhar recursos, restrita a pesquisadores e acadêmicos. Ela já oferecia o correio eletrônico, permitindo o envio de mensagens para outro usuário de um mesmo computador, por meio do programa SNDMSG.
Em 1971, Ray Tomlinson, um engenheiro do MIT, criou um sistema que permitiu enviar mensagens para pastas de usuários em outros mainframes. Ele combinou o SNDMSG com um programa experimental de transferência de arquivos chamado CPYNET, capaz de trocar arquivos entre computadores distantes, pela Arpanet.
Tomlinson também criou uma forma de instruir uma mensagem a ir para a pasta de arquivo de um usuário em um local diferente, escolhendo o símbolo @ (nome_do_usuário@nome_do_servidor), usado até hoje.
O e-mail logo se tornou o principal método de colaboração na Arpanet, originando comunidades virtuais, como “mailing lists” (listas de e-mails), um espaço para compartilhar interesses e objetivos comuns, seguidas do BBS (“Bulletin Board System”) e da Usenet, que conectavam pessoas por meio de fóruns de discussão.
Dennis Hayes
Na época da Arpanet, a AT&T monopolizava o mercado de telefonia nos EUA e não permitia que nenhum aparelho fosse ligado à sua rede para conectar computadores, alegando danos à rede. No entanto, uma decisão de um tribunal federal rejeitou as alegações da empresa.
Então, começaram a ser criados vários tipos de equipamentos que permitiram conectar usuários à rede telefônica. Estes equipamentos eram os modems, que modulavam e demodulavam os sinais telefônicos analógicos convertendo-os para sinais digitais, usados pelos computadores.
Surgiram modems mecânicos e dispositivos como extensões telefônicas habilitadas por rádio.
Em 1981, o lançamento do Smartmodem, criado por Dennis Hayes, facilitou ainda mais a conexão direta dos computadores pessoais às linhas telefônicas, pois ele podia ser plugado diretamente numa linha telefônica e conectado a um computador, sem a necessidade de acopladores, como os modelos anteriores.
Assim, usuários de computadores domésticos comuns podiam digitar o número de telefone de um provedor de serviços on-line e torcer para a conexão ser completada.
William Ferdinand von Meister, Steve Case e Jim Kimsey
Figura - von Meister (esquerda), Steve Case (centro) e Jim Kimsey
William Ferdinand von Meister foi um pioneiro empreendedor digital nos anos 1970, conhecido por sua incessante busca por novas ideias e tecnologias.
Ele lançou várias empresas, como um serviço online que conectava computadores domésticos por linhas telefônicas e uma loja de música por streaming via redes de TV a cabo, que foi bloqueada por gravadoras.
Finalmente, ele lançou uma loja de videogames (“Control Video Corporation” - CVC), que oferecia um serviço (GameLine) de download de jogos, para compra ou aluguel. Depois, os empresários Steve Case e Jim Kimsey se juntaram à CVC. Von Meister era o visionário, Kimsey era estratégico e Case, observador e inovador.
Juntos, eles lançaram o Q-Link, um serviço online para usuários de computadores Commodore, e a CVC virou Quantum, para atender à demanda por serviços online de outras empresas.
No entanto, problemas com as vendas da Commodore e com a Apple os levaram a unir os serviços em um só, lançando a “America Online” (AOL), em 1985.
A AOL se tornou um sucesso, oferecendo uma plataforma fácil de usar com uma ênfase em comunidade e interação social. Ela oferecia salas de bate-papo, mensagens instantâneas e uma variedade de outras ferramentas de comunicação.
Al Gore
Após a ascensão da internet como uma plataforma acessível a todos, houve uma explosão de novos usuários, transformando a internet em um ambiente mais democrático e conectado.
A abertura da internet foi impulsionada por políticas governamentais, lideradas pelo senador Al Gore Jr., cuja atuação política foi fundamental para a expansão da infraestrutura da rede, resultando em leis que permitiram a conexão de serviços comerciais à internet.
Mesmo com essa atuação, Al Gore Jr. costuma ser alvo de piadas quando ele diz que "inventou" a internet.
3 – Os inovadores da Web
Tim Berners-Lee
No início da década de 1990, a internet intimidava usuários comuns com sua complexidade e falta de orientação. Ainda faltava alguma forma de facilitar a busca por conteúdo.
O suíço Tim Berners-Lee estudou em Oxford e sempre teve presente o conceito de colaborar com outros, influenciando sua visão de como as pessoas trabalham juntas e geram novas ideias.
Quando ele trabalhou no CERN (Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear, traduzido do original em francês), ele desenvolveu um programa, chamado Enquire, para catalogar as conexões entre os pesquisadores e seus projetos.
Ele imaginava um espaço global de informação interconectada, semelhante à máquina memex de Vannevar Bush, capaz de armazenar e recuperar documentos em escala global.
Saindo do CERN, Tim Berners-Lee buscava um sistema que permitisse o trabalho conjunto e o controle da memória institucional de um projeto.
Ele queria que as pessoas pensassem juntas e projetassem coisas juntas, facilitando a criatividade em equipe, mesmo estando separadas fisicamente.
Então, ele expandiu seu programa Enquire, que passou a acessar diferentes tipos de informações, criando um ambiente de colaboração.
Berners-Lee usou o hipertexto para conectar informações de maneira rápida e eficiente, permitindo que qualquer pessoa estabelecesse links com documentos em outros computadores, independentemente do sistema operacional utilizado.
Usando um computador NeXT, ele adaptou um protocolo chamado “Remote Procedure Call” (RPC) e desenvolveu os princípios para identificar cada documento, resultando nas URLs (“Uniform Resource Locators”) que conhecemos hoje.
Berners-Lee chamou este projeto de "World Wide Web", ou WWW.
Berners-Lee criou um navegador rudimentar que podia ler e editar documentos, mas ele só funcionava em computadores NeXT, dos quais havia poucas unidades. Apesar disso, seu navegador contribuiu para a rápida disseminação da web para outros centros de pesquisa na Europa e nos Estados Unidos.
Lee não tinha tempo nem recursos para criar outras versões de navegador, por isso, incentivou outros programadores a criarem versões para outros sistemas operacionais, como UNIX e Microsoft.
A web logo se tornou uma das mais importantes e revolucionárias invenções da era digital, tornando obsoletos os serviços online tradicionais e simplificou o acesso à informação na internet.
Ted Nelson, pioneiro do conceito de hipertexto, criticou a abordagem da web por não incorporar elementos essenciais do seu projeto Xanadu, como links bidirecionais, que permitiria micropagamentos aos produtores de conteúdo.
No entanto, temendo a necessidade de uma coordenação central e a possível limitação do crescimento espontâneo da web, Berners-Lee manteve sua ideia original.
Marc Andreessen e Eric Bina
Figura - Eric Bina (esquerda) e Marc Andreessen
Marc Andreessen era um aluno de graduação da Universidade de Illinois. Eric Bina era um programador de primeira linha da mesma universidade, do NCSA (“National Center for Supercomputing Applications”), que tinha sido financiado pela Lei Gore.
Os dois eram fã dos pioneiros da Computação e da ideia da web, mas eles achavam o navegador do CERN sem vida e desprovido de recursos interessantes.
Andreessen chamou Bina para criarem um navegador mais empolgante, que chamaram de Mosaic. Ele estava focado em dotar o navegador com recursos de exibição, como imagens e multimídia.
Marc Andreessen teve um papel crucial na criação do Mosaic, cuja abordagem centrada no cliente e atenção ao feedback dos usuários contribuíram para sua popularidade.
O Mosaic foi um marco importante da web, o primeiro navegador com capacidades gráficas e de fácil instalação.
Berners-Lee criticou a falta de ferramentas de edição no Mosaic, pois isso limitava a capacidade da web como um espaço colaborativo.
Justin Hall
Justin Hall, um calouro do Swarthmore College, ficou fascinado com um artigo sobre o navegador Mosaic e decidiu explorar a internet. Considerando que não havia conteúdo interessante, ele criou seu próprio site, onde compartilhava suas experiências e interesses, atraindo a atenção de usuários desconhecidos.
Seu site foi uma das primeiras tentativas de criar um diretório na web, oferecendo uma seleção eclética de links e conteúdo provocador, incluindo temas eróticos. Hall também começou a escrever um diário pessoal online, abordando questões íntimas e reflexões profundas.
Ele se tornou um pioneiro dos blogs, criando um espaço onde as pessoas podiam se expressar livremente e compartilhar suas histórias, que logo virou uma comunidade virtual.
O fenômeno dos blogs se espalhou rapidamente, e eles se tornaram uma forma poderosa de expressão individual e social.
Ev Williams
Em 1999, os blogs estavam em ascensão, passando de diários pessoais para plataformas utilizadas por uma variedade de especialistas e profissionais. No entanto, criar e manter um blog independente exigia habilidades técnicas e acesso a servidores, limitando sua democratização.
Ev Williams, um empreendedor, desenvolveu uma ferramenta de publicação simplificada, que depois se tornaria o Blogger, simplificando o processo de criação de blogs para torná-los acessíveis a todos.
Inicialmente, Williams não conseguiu transformar o Blogger em um produto comercial viável, mas ele ganhou popularidade até ser adquirido pelo Google, em 2003.
Williams acabou fundando outras plataformas online, como o Twitter e o Medium, reconhecendo a importância da publicação e da comunicação dentro da comunidade online.
Ward Cunningham, Jimmy Wales e Larry Sanger
Figura - Ward Cunningham (esquerda), Jimmy Wales (centro) e Larry Sanger
O surgimento dos blogs incentivou o conteúdo gerado pelos usuários.
Em 1995, Ward Cunningham desenvolveu o wiki, uma ferramenta que permitia a edição de páginas da web diretamente pelos usuários, facilitando ainda mais a colaboração online.
Inspirado pelo HyperCard da Apple, ele criou um programa simples para a internet, chamado WikiWikiWeb, onde os usuários podiam editar e contribuir para páginas da web.
O conceito de wiki se espalhou rapidamente, possibilitando a criação de várias páginas wiki e melhorias no software de código aberto, tornando-se uma ferramenta essencial para a colaboração online.
Jimmy Wales, que desde a infância era fascinado por enciclopédias, se juntou a um estudante de pós-graduação em Filosofia chamado Larry Sanger e eles adotaram o conceito de wiki para criar uma enciclopédia online gratuita chamada Nupedia, escrita por voluntários.
No entanto, eles estabeleceram um processo complexo e lento para a criação e aprovação de artigos na Nupedia, envolvendo especialistas acadêmicos e revisões rigorosas, que resultou em poucos artigos publicados após 1 ano.
Aí, eles usaram o software wiki de Ward Cunningham na Nupedia para criar a Wikipedia, uma enciclopédia colaborativa e gratuita, que deveria ser apenas um complemento para a Nupedia.
Rapidamente, a Wikipedia se tornou mais popular devido à sua abordagem colaborativa aberta, permitindo a contribuição de qualquer pessoa, sem necessidade de credenciais formais. Com isso, a Wikipedia atraiu muitos colaboradores, superando a Nupedia em termos de conteúdo e alcance.
Entre o rigor acadêmico defendido por Sanger e a abordagem mais democrática e inclusiva, preferida por Wales, ganhou este último e a Wikipedia permaneceu mais inclusiva.
A preocupação inicial sobre a qualidade do conteúdo gerado por pessoas sem credenciais se desfez quando a comunidade da Wikipedia aprendeu a corrigir informações imprecisas e a alcançar a neutralidade sobre temas controversos.
A Wikipedia era mais um passo no sentido da visão proposta por Vannevar Bush em 1945, que previa que formas novas de enciclopédias apareceriam.
Larry Page, Sergey Brin
A explosão da internet na década de 1990 trouxe a necessidade de encontrar formas mais eficientes de navegação e organização de conteúdo.
Inicialmente, apareceram guias manuais compilados à mão, como o "Guia da Web", que se tornaria o Yahoo! mais tarde, mas a dificuldade de manter a lista atualizada à mão mostrou a necessidade de automatizar o processo de busca e indexação de sites.
Seus criadores adicionaram uma funcionalidade de busca automatizada com rastreadores da web. Começava a ascensão das ferramentas de busca automatizadas.
Larry Page e Sergey Brin, estudantes de pós-graduação em Stanford, desenvolveram um algoritmo de busca revolucionário, que priorizava a relevância e a qualidade dos resultados, imaginando que a maioria dos usuários navegaria na web para procurar algo específico, não apenas para explorá-la.
Enquanto Brin se interessava por mineração de dados (“data mining”), Page explorava métodos para avaliar a importância relativa dos sites na web, inspirado por conceitos de design centrado no usuário. Ele propôs um sistema baseado na contagem de links bidirecionais.
Implementando o projeto BackRub, Page e Brin precisaram mapear toda a web, enfrentando vários desafios técnicos. O BackRub evoluiu para o PageRank, um sistema de classificação de páginas baseado no número e qualidade dos links.
Page e Brin reconheceram a importância de atribuir valores aos links, criando um processo recursivo complexo, baseado em fórmulas matemáticas sofisticadas para calcular as classificações, visando produzir resultados de pesquisa superiores.
Testando o PageRank, comparando-o com outras ferramentas de busca, eles confirmaram sua eficácia na entrega de resultados mais relevantes, com base no que o mundo pensava dessas páginas, não apenas em sua própria qualidade.
Page e Brin aprimoraram ainda mais o algoritmo, levando em consideração vários fatores, como frequência e localização de palavras-chave.
Eles decidiram transformar sua invenção em um produto amplamente utilizado e criaram o Google, com o objetivo de oferecer um produto de busca expansível e de alta qualidade. A relação com Stanford, que incentivava empreendimentos comerciais, e o apoio de mentores e investidores impulsionaram o rápido crescimento da empresa.
A abordagem centrada no usuário e a recusa inicial em aceitar publicidade foram fundamentais para atrair investidores e expandir o negócio.
A fundação da Google Inc. em uma garagem, juntamente com o apoio financeiro de investidores, como Jeff Bezos, marcou o início de uma jornada para criar um serviço que revolucionaria a forma como os usuários interagem com a informação na web.
Com o crescimento do Google, eles expandiram sua capacidade de processamento e estudo do comportamento do usuário, ajustando constantemente os algoritmos para melhorar a experiência de pesquisa.
Ao desenvolver o Google, Page e Brin realizaram o sonho de uma colaboração homem-máquina eficaz para lidar com a sobrecarga de informações na era digital.
4 – Considerações finais
Este é mais um artigo da série DIRETO AO PONTO, que eu estou escrevendo para a DIO.
Desta vez, foram apresentadas pessoas inovadoras que conseguiram juntar as tecnologias de redes globais com e dos computadores pessoais, para chegar à Internet como conhecemos.
A internet e o computador pessoal surgiram na década de 1970, mas seguiram separadas por mais de uma década.
Primeiro, a rede global Arpanet, restrita a pesquisadores e acadêmicos, foi sendo seguida por outras redes mais abertas e abrangentes.
Depois, a criação do modem permitiu que os usuários comuns de computadores pessoais acessassem a rede global.
O surgimento do serviço WWW, ou a web, popularizou de vez o uso da Internet, por meio de navegadores com recursos gráficos.
Vários serviços foram surgindo, permitindo a comunicação entre pessoas e grupos do mundo todo, como o email, os blogs, as wikis.
Finalmente, o lançamento de buscadores automatizados de conteúdo (como o Google), para pesquisa livre de um assunto, facilitou a navegação pelo emaranhado de bilhões de sites disponíveis na Internet.
Com este artigo, eu concluo a minha divulgação desse livro fantástico (recomendo fortemente aos interessados!!) que foi usado como fonte para o conteúdo destes artigos sobre os inovadores da Computação. O livro tem muito mais assunto e bastidores deliciosos sobre a história da Computação.
Ainda faltou falar de vários inovadores atuais, como Jeff Bezos, Elon Musk, e todo o pessoal envolvido com as novas ferramentas de Inteligência Artificial, mas a ideia era apenas resumir o conteúdo tratado no livro, que foi publicado em 2014.
Posteriormente, escreverei outro artigo complementando a história que não foi contada aqui sobre os inovadores atuais.
5 – Referências
[1] ISAACSON, Walter. Os Inovadores – Uma biografia da revolução digital. Companhia das Letras, 2014.
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