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Fernando Araujo
Fernando Araujo05/02/2024 09:20
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<Direto ao Ponto 12> Por que nós, dinossauros, gostamos de falar do passado

  • #Informática Básica

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Olá, dev!

  

Este artigo faz parte da NOVA série DIRETO AO PONTO, que eu estou escrevendo para a DIO. Eu vou tentar explicar por que nós, dinossauros da tecnologia, gostamos de falar do passado, e contar as nossas experiências como programadores.

 

Sumário

1.   Introdução

2.   Por que os mais velhos gostam de contar histórias pessoais

3.  Minha história na tecnologia e na programação

4.   Considerações finais

5.   Referências

 

1 – Introdução

A NOVA série DIRETO AO PONTO enfoca artigos básicos sobre a programação e é voltada, principalmente, para os iniciantes.

 

Quando eu decidi criar esta série, pensei em escrever artigos técnicos, para explicar aos devs iniciantes conceitos básicos da programação.

 

No entanto, resolvi que também seria interessante escrever sobre a história de coisas ligadas à área, de como viemos parar aqui, hoje, com Internet, smartphones, Inteligência Artificial, Google, redes sociais, robôs, veículos autônomos e tudo mais que a tecnologia nos proporciona atualmente.

 

E também decidi contar as minhas histórias com a área de programação. A ideia é compartilhar com vocês, mais jovens, as experiências que eu vivenciei desde 1980 até hoje, pois vocês não sabem como foi passar por isso. Os artigos com histórias serão publicados para complementar e contextualizar os assuntos tratados nos artigos técnicos.

 

Você já deve ter notado que pessoas mais velhas adoram falar sobre a história das coisas antigas, como computadores, tecnologias ultrapassadas, objetos que caíram em desuso, métodos abandonados e outras coisas obsoletas, bem como suas experiências vividas com elas, não é?

 

Se essas coisas já foram superadas, por que relembrá-las? Por que não falar apenas de coisas recentes e usadas por todo mundo? Bem, no mínimo, são histórias pitorescas!!

 

Eu achei oportuno escrever um artigo explicando porque isso acontece. Este artigo que você lê agora conta de onde vem a minha motivação para contar histórias do meu passado na tecnologia, de como EU vivenciei tudo isso.

 

 

2 – Por que os mais velhos gostam de contar histórias pessoais

 Eu tenho 62 anos, completados em dezembro passado. Sou um daqueles dinossauros da tecnologia e da programação, pois aprendi programação em 1980.

 

Antes disso, já era fascinado por tecnologia e acompanhava os lançamentos e a evolução desta área fantástica, que dava vida a todas aquelas coisas mostradas na ficção científica dos livros e filmes.

 

Como motivação, eu vou resgatar uma sequência do filme “Blade Runner - o Caçador de Andróides”, meu cult movie favorito, com o marcante monólogo falado por um androide do filme.

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"I've seen things you people wouldn't believe.

Attack ships on fire off the shoulder of Orion.

I watched c-beams glitter in the dark near the Tannhäuser Gate.

All those moments will be lost in time,

like tears in rain.

Time to die.”

 

 Tradução livre, de minha autoria.

 

“Eu vi coisas que vocês, pessoas, não acreditariam.

Naves de ataque em chamas perto do cinturão de Órion.

Eu vi raios-C brilharem na escuridão próximos ao Portal de Tannhäuser.

Todos esses momentos se perderão no tempo,

como lágrimas na chuva.

Hora de morrer.”

 

Este belo monólogo é chamado de “tears in rain” (lágrimas na chuva) e é uma sequência marcante do filme.

 

Basicamente, para mim, o que esse texto diz é que nenhum ser humano, de carne e osso, teve o privilégio de ver ou presenciar estes momentos fantásticos que o androide vivenciou. Além disso, que todas as memórias vistas e presenciadas por esse androide (replicante, no filme) seriam perdidas na hora em que ele morresse, ninguém mais teria acesso a elas, por mais impressionantes que fossem.

 

Não estou querendo dizer que nós, dinossauros, escrevemos sobre histórias passadas para que elas não se percam quando morrermos. Esse era o caso do androide, no filme. No meu caso, eu não sou tão fatalista, e tenho 2 motivos principais:

 

·              O primeiro, eu desejo compartilhar a minha vivência do momento em que vi essas coisas acontecerem. Quero tentar transmitir as minhas emoções de alegria, surpresa e encantamento por estar presente naquele momento em que cada acontecimento se deu;

·              O segundo, tento mostrar, aos mais novos, que toda essa tecnologia que temos nas mãos hoje não foi criada do zero, agora. Tudo isso é decorrente de cada pequeno avanço incremental, seja tecnológico, científico ou acadêmico, de coisas, objetos e técnicas criadas há dezenas, até centenas de anos.

 

           Essas coisas antigas, antiquadas, obsoletas, pitorescas, consideradas bizarras, às vezes, precisam ser valorizadas, resgatadas, como tijolinhos essenciais na construção dos fundamentos do mundo altamente tecnológico que temos hoje.

 

Muitos destes avanços ocorreram na minha frente, na minha carreira. E, para mim, eram avanços incríveis para a época!!!

 

 

3 – Minha história na tecnologia e na programação

Para contextualizar, eu vou contar uma história pessoal:

 

Em 1980, eu entrei no curso de Engenharia Elétrica, na Universidade Federal da Paraíba (UFPB) - hoje ela se chama UFCG, em Campina Grande-PB. No primeiro semestre, eu aprendi a programar computadores e, na primeira aula de programação, da disciplina Introdução à Ciência da Computação (ICC), decidi que iria cursar Computação também, algum dia.

 

A linguagem usada era FORTRAN, na sua versão inicial, ainda com os famigerados comandos GO TO (ver figura com um trecho de um código). O computador era um mainframe IBM System 360, com entrada de dados por cartão perfurado e saída apenas em listagem da impressora. Não tinha monitor.

 

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A gente usava uma máquina perfuradora de cartões (ver figura), digitando uma instrução do programa com um teclado e a máquina perfurava o cartão, um para cada instrução. Eles eram colocados em sequência, um após o outro, como um baralho de cartas.


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Depois, a gente prendia os cartões com uma borracha (daquelas de amarrar dinheiro em banco) e entregava o pacote (ver imagem, atual) no setor de Processamento de Dados, para serem executados no computador.

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Os programas (“jobs”) rodavam em lote (“batch”), em horas determinadas do dia, de 2 em 2 horas. Na próxima hora agendada, a gente recebia a listagem do programa no NPD (e os nossos cartões) e voltava para a perfuradora, para corrigir erros de digitação. O programa nem tinha sido executado ainda, por causa dos erros.


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A gente substituía cada cartão errado por um novo cartão digitado, na sequência correta, e entregava o programa de novo para ser executado.

 

Depois de algumas sessões de correções, com idas, esperas e voltas, o programa era executado, afinal. Mas o resultado podia estar errado, devido a erros de lógica.

 

E a gente voltava para uma nova sessão de perfuração de cartões, para corrigir a lógica errada, esperava pela nova listagem, até que, em algum momento, o resultado da execução estava correto e a gente entregava a listagem ao professor, para avaliação e nota.

 

Essa era a saga de programar naquele tempo.

 

Voltei a usar programação no semestre seguinte, na disciplina de Cálculo Numérico, usando o mesmo esquema, só que agora a versão da linguagem tinha mudado para FORTRAN IV, rodando no mesmo mainframe.

 

Ao final do curso de Engenharia, eu fiz estágio no Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE), em São José dos Campos-SP e conheci o melhor da tecnologia da época (1985). Fiquei maravilhado!!!

 

Logo após a graduação, entrei direto na pós-graduação. A gente agora programava em FORTRAN 77 (primeira versão estruturada da linguagem). Já havia os famosos terminais IBM de tela textual verde, interligados a um novo mainframe adquirido pela universidade (modelo IBM 4341) e a gente podia afinal, ver a magia (textual) acontecendo na frente dos olhos! Digitava o código, executava, via os erros, corrigia e mandava executar de novo! Que evolução!!! 

 

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Nessa época, eu tive contato com o primeiro IBM PC, que alguns professores tinham comprado, para uso próprio (não para a universidade) e, às vezes, deixavam a gente usar nas pesquisas (só por 1 ou 2 horas). 

 

Eu também tive acesso a um computador de um órgão associado ao INPE, de Sensoriamento Remoto, dentro da universidade, cuja memória de imagem única me permitiu fazer pesquisas para a pós-graduação, programando em C, implementando algoritmos de Computação Gráfica.

 

Nessa época, eu comprei o meu primeiro PC, um IBM Value Point, com processador 486-DX2 (ver figura abaixo).

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Logo depois, em 1992, eu entrei no curso de Computação e as primeiras disciplinas ensinavam a linguagem Pascal. Em casa, eu programava em Turbo Pascal, em C e C++.

 

No ano seguinte, fui aprovado em um concurso público para a empresa de Computação do Governo do Estado da Paraíba (CODATA), onde trabalho até hoje. Fiquei lotado no Laboratório de Meteorologia, Recursos Hídricos e Sensoriamento Remoto da Paraíba (LMRS-PB) - no mesmo prédio onde ficava o laboratório do INPE citado anteriormente.

 

Este órgão tinha uma parceria com o Ministério da Ciência e Tecnologia, que nos permitiu realizar capacitações no Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC), do INPE, localizado em Cachoeira Paulista-SP, e conheci o supercomputador que havia lá (um NEC SX-3), depois também conheci o NEC SX-4.

 

No LMRS-PB, eu trabalhei com computadores pessoais, Windows (3.1, 95, 98, ME e XP), servidores Windows NT, rede Novell, Oracle 7 e 8, Linux e estações de trabalho (“workstations”) Sun Sparc Station, com um terminal gráfico fantástico (para a época), rodando Unix puro.  Trabalhei com blade também!

 

Em 1995, eu desenvolvi e publiquei o site institucional do LMRS-PB, no início da web, na rede de alta velocidade da Rede Nacional de Pesquisa (RNP), que interligava universidades e órgãos de pesquisa do Governo Federal. Em casa, eu acessava a web por meio de conexão discada, a 33 Kbps. As tabelas dinâmicas eram obtidas por scripts cgi, implementados em C, depois em Perl. A interface dinâmica por menus em Javascript. Depois vieram os applets Java.

 

Resumindo, de 1980 até 1996, quando terminei o curso de Computação, eu passei da programação em FORTRAN, perfurando cartões em um mainframe, para um supercomputador do CPTEC, usei vários tipos de computador e várias linguagens de programação. Essas experiências me marcaram tão profundamente que eu vivo repetindo em conversas e textos.

 

As emoções que eu senti em cada um destes momentos estão gravadas para sempre na minha memória e na minha formação.

 

Eu sei que descrevendo estes momentos para você não vai lhe fazer reviver tudo o que eu passei, mas um pouco de esforço mental fará você imaginar a emoção que eu devo ter sentido em cada momento. E você também deve saber que cada momento desse dependia dos avanços feitos em momentos anteriores.

 

Talvez a experiência mais impactante nem tenha sido quando entrei na sala do supercomputador do CPTEC (foi mágico! Parecia que eu estava olhando para HAL 9000, o computador do filme 2001 – Uma Odisseia no Espaço!), ou quando entrei nas salas do INPE para começar meu estágio supervisionado (também foi mágico! Me senti um verdadeiro cientista da NASA!).

 

Na verdade, foi quando descobri, na primeira aula de programação, em 1980, que a universidade possuía um computador de grande porte e que eu teria acesso a ele, podendo criar meus próprios programas para rodarem nele. Na minha cabeça, era a ficção científica que eu tanto gostava, de livros e filmes, se tornando realidade!!

 

4 – Considerações finais

Este é mais um artigo da série DIRETO AO PONTO, que eu estou escrevendo para a DIO. Ele tratou do costume que nós, pessoas mais velhas, os chamados dinossauros da tecnologia, temos de falar sobre nossas experiências passadas.

 

Eu falei, especificamente, da minha motivação para contar essas histórias antigas. Depois, descrevi a minha história com a tecnologia (e programação) desde a entrada na universidade até hoje.

 

A ideia era mostrar como era a tecnologia em cada momento da minha carreira e descrever como todos estes momentos foram importantes para a minha jornada até aqui, me deliciando com o que encontrava e vibrando com as evoluções pontuais que ocorriam.

 

Falar sobre estes momentos me traz de volta todas as emoções que eu senti quando os vivenciei. Pelo menos, devo ter passado a importância de cada um deles na construção da tecnologia que temos hoje!

 

Eu me senti como se fosse Fábio Akita falando nos seus vídeos sobre como era a tecnologia no passado, contextualizando para chegar ao quadro atual. Eu escrevi como se estivesse numa mesa de bar, batendo papo com amigos, cada um contando suas histórias. Foi ótimo!!!

  

Os erros de digitação nos cartões perfurados foram importantes para a minha formação (bem como para chegarmos nos monitores, teclados, mouse, etc.), os disquetes foram importantes para chegarmos nos pendrives etc.

 

A linguagem FORTRAN, com o comando GO TO, foi importante para chegarmos ao Java, Python, Javascript e Go; o acesso discado foi importante para chegarmos à banda larga e assim por diante. E eu vi tudo isso acontecendo na minha frente!

 

Resumindo, eu considero extremamente importante qualquer tecnologia do passado na construção das tecnologias atuais. E eu convivi com cada uma delas!

 

E me sinto privilegiado por ter vivenciado tudo isso e ver como cada coisa foi evoluindo até chegar ao que temos de avançado hoje.

 

As minhas filhas, e vocês, mais jovens, vão poder contar essa mesma história, daquilo que vivenciaram a partir dos anos 2000 e além!!! E vão ver como vivenciaram o futuro se fazendo a partir das coisas mais velhas!

 

Para finalizar, 3 recomendações:

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·      Assistam ao filme Blade Runner, O Caçador de Androides, de 1982, dirigido por Ridley Scott;

·      Leiam o livro em que se baseou o filme, “Androides sonham com ovelhas elétricas?” (“Do androids dream of electric sheep?”), de Philip K. Dick;

·      Ouçam a belíssima trilha sonora do filme, do compositor grego Vangelis;

·      Assistam à continuação do filme original, “Blade Runner 2049”, de 2017, dirigido por Dennis Villeneuve.


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4 – Referências

           Sem referências, tudo está na minha cabeça.

  

“In your head, in your head

Zombie, zombie, zombie-ie-ie

What's in your head, in your head?

Zombie, zombie, zombie-ie-ie-ie, oh”

 

(Zombie – música do Cranberries) :-) 

 

 

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